domingo, 30 de dezembro de 2007

Fim de 2007

Com o fim do ano dediquei-me a ver melhor o que ando a escrever no blog e não fico muito satisfeito. Para além de algum excesso de corrosibilidade, vejo que só ocasionalmente o que escrevo é claro e vai de encontro ao que pretendia e que muitas vezes deixo passar erros (ao teclar ou ortográficos) devido à pressa ou ao cansaço com que geralmente escrevo.

Pelo menos cumpri o objectivo de ter um fluxo mais ou menos constante e desenvolvi o hábito de escrever no blog. Em 2008, com mais calma, espero manter o nível de actividade mas com textos mais pensados e menos apressados.

Uma boa passagem de ano para todos, espero que continuem a ter paciência para me aturar (assumindo que alguém lê mesmo!).

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O acordo ortográfico

Mais um artigo de Vasco Graça Moura sobre o acordo ortográfico, exemplificando bem que nada de bom resulta do mesmo. Neste artigo fica mais claro que só pessoas que não percebem de política, língua e globalização podem achar positivo este acordo. Só espero que não seja a maioria.


Artigo

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Inverno

Começa hoje a gestação da primavera.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Revolução industrial nos jogos de vídeo



Middleware, aplicações a que os estúdios de jogos, principalmente os europeus e americanos, recorrem para acelerar o processo de desenvolvimento de um jogo. A aplicação mais recente de que tive conhecimento gera automaticamente cidades com base nalguns dados iniciais que o utilizador da ferramenta insere. Cria-se deste modo o universo onde decorrerá o jogo - de uma forma mecânica e muito menos pensada. Evita-se deste modo que sejam pessoas a criar toda a cidade, a pensar em cada pormenor e elemento, gera-se automaticamente aquilo que é um dos pontos fundamentais dos jogos. O resultado provável será um mundo genérico, sem carisma nem personalidade, uma consequência muito frequente do recurso a este tipo de ferramentas.

Cria-se assim de forma mecânica o que antes requeria artífices capazes, produz-se em massa aquilo que devia ser individualizado e pensado ao pormenor e desvirtua-se o trabalho dos artistas que desenhavam os cenários. Em suma, tudo se banaliza graças a ferramentas que nos fazem trabalhar mais depressa e mais barato. Foi assim com a produção em massa e segue-se o mesmo caminho com o desenvolvimento dos jogos, presumo que com enorme prejuízo para os mesmos.

Como sempre a lógica científica nega-nos o prazer do fútil e do ineficiente, as brechas que são tão necessárias para o preenchimento com criatividade. E fazem-se, mais rapidamente e com menos custos, coisas que são melhores e que nos agradam menos.

domingo, 25 de novembro de 2007

Ideologia implícita

Retiro este pequeno excerto de uma entrevista a Mário Soares. É com muito gosto que vejo mais alguém reconhecer que as ideologias não terminaram e que o neoliberamismo é uma ideologia. A situação que talvez seja atípica é a de essa idelogia não ter quase mais nenhuma capaz de competir com ela. Além disso tem a força de descer ao desejo de posse dos homens, a esse vício que nos consome mesmo sem nos dar prazer.

Reconhecer que existe uma ideologia é o primeiro e mais importante passo para criar ideologias alternativas. E Mário Soares, nesta entrevista, dá o seu contributo.


DN - Agravaram-se porquê?

MS - Agravaram-se porque houve uma vaga neoliberal.

DN - Acha que os políticos em Portugal têm sido muito condescendentes com os grandes grupos económicos e com essas desigualdades?

MS - Bem, os grupos económicos são necessários. Mas eu acho que houve uma vaga neoliberal vinda da América. E essa vaga neoliberal é uma ideologia. Quando disseram que acabaram as ideologias... realmente acabou o comunismo por implosão, acabou o nazi-fascismo porque foi derrotado, mas veio o neoliberalismo, que é uma outra ideologia perniciosa para a América, em especial, e para o mundo, também para a Europa. Houve uma vaga que entrou...

DN - Por onde?

MS - Em grande parte via [Tony] Blair.

entrevista

A Confissão de Lúcio


"A Confissão de Lúcio", obra de Mário de Sá Carneiro, é pouco clara no seu objecto - assumindo que há um objecto. Podemos encontrar o desequilíbrio e descontrolo - principalmente de Lúcio. Ou a dificuldade de comunicação e a impossibilidade de transmissão directa da experiência cognitiva. Encontramos ainda alguma caricatura da arte e do meio artístico, não sei se intencional, mas presente na ambiência parisiense. Encontramos tudo isto mantendo-nos sempre perdidos e desorientados.

Esta obra não-linear acaba por não oferecer uma leitura agradável, oferece a mesma sensação de ter uma longa conversa com um louco. No entanto o tema e a abordagem não são perdas de tempo, ao ler o livro várias vezes me ocorreram imagens do filme Mulholland Drive, a linguagem do cinema parece muito mais apta para expressar aquilo que até podia fascinar Mário de Sá Carneiro mas que não chega ao leitor por via da escrita.

Excertos no Instituto Camões

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Idade Avançada

O estúdio Mistwalker tem um curso um jogo de nome Lost Odyssey. Um dos personagens principais, Kaim, tem uma aparência jovem com uma idade de 1000 anos. Há mais alguns personagens na mesma condição, pessoas imortais que circulam pelo mundo. Mas as características que Sakagushi associa a esta idade são as de indiferença, talvez até apatia. Subjacente está a ideia de mundo monótono e de tédio para quem tem de aturar os "jovens" que repetem constantemente os mesmo actos.

É uma boa forma de colocar a imortalidade. Será interessante saber como se relacionam os imortais entre si, se também são camaradas, indiferentes ou se practicam as mesmas acções que caracterizam o mundo que entedia.

sábado, 3 de novembro de 2007

A arte de jogar

Vídeo

Encontrei na Edge deste mês uma citação deste vídeo e pareceu-me bastante bizarra. Consegui encontrar o vídeo e os comentários são preocupantes. Primeiro temos aquela comparação entre formas culturais, jogos comparados a livros e a cinema. Apesar de os jogos terem histórias e imagem, na verdade não são esses os elementos vitais. A arte de fazer um jogo passa, em primeiro lugar, pela forma como estão definidos os controlos - e nesse campo os críticos tradicionais não são muito competentes na apreciação dos jogos uma vez que não têm noção de que fazem parte do jogo e que o jogo não é autónomo do jogador.

A isto segue-se outro assunto preocupante, o exemplo do livro deprimente. Eu não leio livros deprimentes, se isso é arte então não tenho nenhum gosto por essa coisa. Parece que a arte foi tomada de assalto por loucos e o melhor é manter a distância. Será melhor que os jogos se afastem dessa contaminação da arte moderna (que por acaso consegue ser bastante deprimente).

Sobre o jogo ser melhor na primeira vez que o jogamos, não estou muito certo disso. Em muitos jogos actuais, jogos muito limitados pela colagem a formatos como o cinema, isso pode ser verdade. Não é verdade no entanto para jogos mais puros, mais virados para o jogo propriamente dito e menos para outros aspectos paralelos.

Por fim vemos o senhor a comentar como o jogo é realista e dá a entender que essa será uma virtude. Não vejo porquê nem como, mas é uma coisa muito americana - deve ser por isso que os jogos desse lado do Atlântico são por regra mais feios que os do resto do mundo.

Ao ler a Origem da Tragédia consegui compreender melhor a crítica actual e as deficiências de que muita da arte existente sofre. Nos jogos o livro é particularmente pertinente, creio que tendo presentes as ideias do livro seremos muito mais cautelosos ao fazer afirmações como fez o senhor Dirda.

sábado, 27 de outubro de 2007

Aquilo que não sei

Ao ver este vídeo constato que desconheço muito do pós 25 de Abril. Os nomes são-me estranhos ou apenas vagamente familiares, as situações são-me desconhecidas. A postura deste PM é invulgar e com muita pena vejo que durante os 12 anos de frequência do ensino básico e secundário não houve tempo para expor convenientemente este período fundamental. Mas falei do "star system" de "hollywood" na disciplina de história. Prioridades...

No vídeo o entrevistado é José Pinheiro de Azevedo. Chamam-no fascista nos comentários do youtube, confesso que nada sei sobre ele.

domingo, 21 de outubro de 2007

A. Cunhal vs. M. Soares

Então podem fazer-se debates sem jornalistas a segurar trelas que prendem os políticos? Não é que nessas condições eles debatem mesmo! Extraordinário!

Parece que hoje em dia para ver debates temos de recorrer ao arquivo da rtp.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007


Uma nova entrada no Mapa do Verão de São Martinho, a Carreira da Índia.

Para quem gosta de literatura de viagem e descobrimentos. Os portugueses em geral.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Outono

Já é Outono e, num grave lapso, não o mencionei aqui no blog. Deixo algumas folhas de plátano, as folhas que estou habituado a ver e cheirar nesta altura desde que me lembro de existir.

sábado, 22 de setembro de 2007

Notas do Tradutor

Camilo Castelo Branco fez uma tradução de "A Formosa Lusitânia" de Lady Jackson. Deste livro ficam na memória os comentários do tradutor: vigorosos e adequados nas suas considerações. Demonstra um grande conhecimento de todos os assuntos e castiga a mediocridade do rigor inglês nas considerações sobre o país.

Dou alguns exemplos dessas notas, não os melhores, apenas aqueles que me parecem mais próprios para as minhas experiências deste dia.

114 Parece-me ser este o plebeísmo português correspondente ao knocked up. Segundo o Thesaurus of english words and phrases, de Roget, knocked up tem a seguinte sinonímia fatigued, tired, sinking, prostrate, etc. Talvez mais ao sabor plebeu, se pudesse dizer «derreadas»; porém, é quase inverosímil uma inglesa derreada - elas, que se interiçam na hirta inflexibilidade do osso sem articulação, sem costura, inconsútil. «Estafadas» pois é o melhor, acho eu.

156 Esta senhora houve-se generosamente com a princesa do Mondego. Não é esse o costume dos hóspedes ingleses, Richard Twiss, que esteve em Coimbra em 1773, homem de letras, escreveu um enorme livro acerca de Portugal e Espanha, dedicando a Coimbra as cinco seguintes linhas: «Coimbra é uma universidade situada num monte, perto do rio Mondego, sobre o qual corre uma ponte muito comprida e baixa, com muitos arcos grandes e pequenos. residem aqui cinco famílias inglesas, uma das quais pertence a um médico. Esta cidade é celebrada pelos seus curiosos copos e caixas de corno polido.»
E nada mais diz o admirador do polido corno.



domingo, 16 de setembro de 2007

Na lista de "outros espaços" acrescentei a A Geração Perdida, um blog com gente que confirma se as palavras têm as letras todas e que é um pouco menos rabujenta do que eu.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

No Abrupto podemos encontrar um texto de Boaventura Sousa Santos sobre a invasão e destruição parcial do campo de milho (?) transgénico. Um texto impecável, irrepreensível e completamente incompreensível para um mundo de gente que não gosta de pensar. Não se trata de uma legitimação de um movimento, apenas de como se desenrolam certos tipos de acção.

O 25 de Abril de 1974 foi ilegal, o 24 de Agosto de 1820 foi ilegal, o 1 de Dezembro de 1640 foi ilegal. Nem quero imaginar o que diriam estes comentadores do vital 1 de Fevereiro de 1908! É claro que estes acontecimentos não são de forma alguma comparáveis com um simples ataque a um campo de milho. No entanto não se trataram de acontecimentos instantâneos, desenvolveram-se a longo do tempo, foram ganhando dimensão lentamente. Nessas fases de crescimento sofrem-se os riscos e praticam-se as "ilegalidades" - nos encontros, nos pequenos actos de revolta, na conspiração.

Nos dias que correm já poucos crêem que no futuro existirão revoluções. É a arrogância das democracias - apesar das inúmeras falhas ideológicas e de governadas por uma maioria tonta não deixam de se achar inabaláveis. Falte o dinheiro e veremos onde pára a robustez dos nossos valores "universais".

domingo, 9 de setembro de 2007

C.C.B.

Ao homem desamparado não se lhe podem pedir contas do pacto social, porque a sociedade não quis aliança com ele quando o desamparou. Ao homem do trabalho, que subsiste do seu salário, se lhe tiram a enxada da mão, concedem-lhe o direito tácito de se revoltar contra alguém que o alimente. (...)

Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países.

Citações de Camilo Castelo Branco em Vida do José do Telhado.

Nestas passagens encontro dois elementos de relevo. Um é a da justificação da pobreza extrema para o saque. É de realçar no entanto que tal argumento só se aproveita quando a palavra pobreza vem acompanhada da palavra extrema, coisa cada vez mais rara no nosso país e continente.

Na segunda passagem algo mais frequente, a tentativa de enfiar na máquina e a 90º o nosso povo de algodão. O comentário, directamente do século XIX, mostra que não só temos o hábito de encolher em pouca água a ferver, como que o tamanho já era o "XS". Serve de exemplo para aqueles que acreditam que umas poucas décadas do século XX moldaram as mentes dos portugueses. Não, esse espírito já vem de outros tempos.

sábado, 8 de setembro de 2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Num artigo do DN intitulado "o que falta para sair da crise" César das Neves aponta um dos graves problemas da política e da mentalidade tecnocrática. Pode-se resumir a texto na ideia de que se não avançamos é porque não sabemos para onde ir, nem sabemos bem onde estamos. Em termos de economia vai ao fundamental: é uma questão com uma forte ligação à componente cultural.

Actualmente é-me mais fácil compreender pessoas assim, com ideais ou fé, do que os comentários mais gerais e comuns. É quase como se todos os que acreditam em algo tivessem facilidade em ver o inimigo comum, o nada - esse adversário complicado.




Um pouco antes passei por este artigo, que passo a citar (sem pretender nenhuma carga negativa para o primeiro artigo):

"O dinheiro tornou-se mais e mais um Deus ao qual todos tinham que servir e diante do qual todos tinham que se prosternar. O Deus Celestial tornou-se mais e mais uma velharia ultrapassada e foi posto de lado para dar espaço ao culto de mammon. E assim começou um período de total degeneração que se fez especialmente pernicioso porque ocorria num tempo em que a Nação necessitava de ideais grandiosos, pois a hora crítica aproximava-se. A Alemanha deveria ter-se preparado para proteger com a espada seus esforços de ganhar o pão de cada dia pacificamente. Infelizmente, a predominância do dinheiro recebeu apoio e sanção daqueles que deveriam ter-se oposto a ela. (...). Na prática, contudo, todas as virtudes ideais passaram para o segundo plano em relação ao dinheiro, pois estava claro que, uma vez tomado esse caminho, a nobreza da espada brevemente seria suplantada pela finança (...). Um sério estado de ruptura económica era urdido pela lenta eliminação do controle pessoal dos investimentos e a gradual transferência de toda a estrutura económica para as mãos das sociedades por acções (...). Desse modo, o trabalho foi rebaixado a objecto de especulação ao alvedrio de exploradores sem escrúpulos. A despersonalização da propriedade aumentou em grande escala. Os círculos financeiros passaram a triunfar e progredir lenta mas seguramente na assunção do controle de toda a vida nacional. A melhor prova de quão longe essa "comercialização" da nação alemã fora longe pode ser vista claramente após a guerra, quando um dos principais industriais alemães afirmou que somente o comércio poderia reerguer a Alemanha."


Adolf Hitler, Mein Kampf


O sucesso da recuperação alemã, em termos económicos e políticos, revela a importância que um ideal combinado com uma cultura capaz de "fazer" traz tudo o que é necessário para o desenvolvimento sem estar constantemente a falar, de forma vazia, em competitividade. Claro que nem todos os ideais são bons, apenas a utilidade dos mesmos é garantida.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007


Sentado aqui eis que modelo homens
À minha imagem,
Um género que me seja comparável,
Para sofrer e chorar,
Para gozar e jubilar,
Para te não venerar,
Como eu!

Prometeu (Goethe), em A Origem da Tragédia (Nietzsche)


sábado, 25 de agosto de 2007

Ultimamente vejo bastantes mulheres grávidas, o que é sempre uma visão animadora.

Ouço ainda histórias de homens de meia idade indignados por as grávidas passarem à frente na caixa prioritárias do supermercado. Será talvez melhor evitar os assuntos tristes.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

(...) Alguém poderá dizer: "Não te envergonhas, Sócrates, de teres levado uma vida como essa que todos nós conhecemos, e que hoje te conduziu ao risco de pena de morte?". A esse eu replicaria justamente: "Enganas-te, amigo, se julgas que um homem com algum mérito, por fraco que seja, deve ter em conta o risco de viver ou de morrer, em vez de ter unicamente na ideia quando actua, se o que faz é justo ou injusto, se é digno de um homem de bem, ou de um malvado. Na tua opinião, seriam desprezíveis todos os semideuses que morreram em Tróia, incuindo o filho de Tétis, que, para fugir à desonra, de tal modo despresou o perigo que, sua mãe (e era uma deusa!) vendo-o impaciente por matar Heitor lhe diz mais ou menos isto: "Meu filho, se vingares a morte de Patrocolo, derramando o sangue de Heitor, tu morrerás também, porque, morto Heitor, a morte está no teu destino". - Ele, não obstante o aviso, receando muito mais uma vida de covardia, sem ter vingado o amigo, desafiou a morte: "Que eu morra imediatamente - exclamou - depois de ter punido o malfeitor, e não fique exposto ao escárnio, inútil carga de terra junto às curvas naus."

Platão, Apologia de Sócrates

domingo, 19 de agosto de 2007

Haruki Murakami

Enquanto procurava nos marcadores do firefox por uma página passo por www.randomhouse.com
e noto que tal sítio nada me diz. Segue-se o clic e lá estou a ver que a página é de um escritor japonês, Haruki Murakami. Vi que obras tinha, encontrei algumas na FNAC e até ponderei comprar. Volto à página do escritor, dou umas voltas e lá encontro as habituais citações de imprensa americana, Los Angeles Times, The New Tork Observer, ... Ter a imprensa americana a falar de nós não é bom, mas à partida não é terrível.

Estão por lá umas trocas de mail devido às traduções deste escritor nos EUA. Segundo o tradutor partes dos livros de Murakami seriam alteradas, ou melhor, seria dada a sugestão para serem alteradas. É assim que por lá entendem o trabalho do editor, trabalho que o tradutor diz ter desempenhado de forma caridosamente gratuita (estes americanos são uns simpáticos).
Tendo em conta que a tradução portuguesa decididamente terá como alicerce a americana surge um telhado de apreensão.

Falta ver quais as influências do escritor. Raymond Chandler, Kurt Vonnegut, Richard Brautigan. Todos americanos, nenhum que me interesse. Murakami decidiu ainda traduzir obras de F. Scott Fitzgerald, Truman Capote, Jonh Irving e Raymond Carver. Não li trabalhos de todos, apenas tive a infelicidade de ler um ou outro.


Não vou ler nada deste japaricano. No entanto, no decorrer das buscas pela página da FNAC sempre encontrei dois trabalhos de Moraes. Só falta que a página funcione.

sábado, 18 de agosto de 2007

No livro de que tenho vindo a falar encontrei esta página:

http://www.clausewitz.com/CWZHOME/

É uma página escrita em inglês, com bastante informação sobre o Prussiano.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A popularidade de Sun Tsu

No início do "confronto" entre Sun Tsu e Clausewitz no livro Estratégia O Grande Debate" o autor, com um rigor que incute a todo o livro, alerta imediatamente para o facto de a obra de Sun Tsu consistir em 30 páginas enquanto a de Clausewitz (e ficando apenas pelo Vom Kriege) conta com 562. A popularidade de Sun Tsu em áreas do conhecimento como a gestão não será alheia a este aspecto. Não fosse a gestão a área com nascente situada num país pouco amigo do conhecimento e muito dado aos "casos de sucesso".

Estratégias infalíveis (parte 1 de 2)

Continuando a seguir Clausewitz podemos encontrar alguém que no princípio do séc. XIX já alertava para alguns problemas que aparentemente se agravaram nos dias de hoje em campos do conhecimento além da estratégia. As seguintes citações encontram-se nas páginas 126 e 127
do livro Estratégia o Grande Debate:

"A teoria não consegue apetrechar o intelecto com fórmulas para resolver os problemas..."

"Somente a parte analítica destas tentativas de teoria constitui um progresso no domínio da verdade; a sua parte sintética, que inclui prescrições e regras, é completamente inutilizável. Elas visam grandezas certas quando tudo na guerra é incerto e todos os álculos se fazem com grandezas variáveis. Elas só consideram grandezas materiais, enquanto que o acto da guerra é todo ele compreendido de forças e de efeitos espirituais e morais. Apenas têm em conta a actividade de um só campo enquanto que a guerra repoussa numa acção incessante que os dois campos exercem um sobre o outro."


Aquilo que encontramos não é um relativismo ou tentativa de redução do valor das teorias, apenas se pretende destacar os limites do nosso conhecimento e os perigos de tentar resolver problemas complexos como o da guerra com receitas simples, repetíveis e infalíveis. Esta ideia de prudência, de consiência das limitações das teorias, é aplicável a campos como o da Economia - possivelmente aquele que tem sido mais tentado seguir o caminho que devemos evitar. Mas com o monismo metodológico que podemos considerar que enfrentamos não é de todo surpreendente que tal se verifique. É no entanto extraordinário que a ideia de solução infalível não se desgaste, após o inevitável fracasso apenas se muda a solução infalível - não a ideia de infalibilidade.

domingo, 8 de julho de 2007

A maravilha do mundo

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro
, 07/03/1914; Athena, nº 4, Janeiro de 1925

retirado em http://www.astormentas.com/

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Verão

Chegou o simpático Verão. Vai ser duro!

sábado, 28 de abril de 2007

O exagero da virtude

Esta notícia do DN é interessantíssima. É uma pena que o ex-primeiro ministro de Espanha não falar assim quando não era "ex-primeiro-ministro". Mesmo assim vale a pena ver o que ele tem a dizer e passo a citar o artigo:

"Falando para mais de uma centena de empresários, políticos e opinion makers, o antigo líder do Partido Popular considerou o multiculturalismo a "negação da sociedade democrática". Ao contrário do que alguns políticos defendem, Aznar não o vê como exemplo de tolerância. Pelo contrário. "Não é o mesmo uma Europa com 10% de imigrantes do que com 40%", assim como "não é o mesmo com maioria cristã ou muçulmana". Para o ex-governante, "os líderes políticos devem reflectir sobre as fronteiras da União Europeia, recuperar os nossos valores e não pensar só no politicamente correcto"."

O multi-culturalismo como anti-democrático deveria ser algo bastante óbvio para qualquer pessoa que tenha noção que as culturas são diferentes. Com culturas diferentes o princípio do voto fica desvirtuado, deixa de ser uma questão de democracia para uma ditadura da maioria. Depois há o problema de articular as culturas que vai resultar na anulação, pelo menos na vida pública e política, da generalidade das culturas. A democracia não é tolerante, trata-se apenas de um sistema que foi criado a pensar num tipo de mundo, um mundo em que existe uma cultura num espaço, uma cultura que não tem de prestar vassalagem a outras culturas e decide por si.

Sobre uma Europa com 10% de imigrantes ou com 40% ser diferente, aí está um comentário extremamente evidente. Impressiona neste comentário é a falta de percepção que geralmente os cidadãos têm do fenómeno. Claro que não ajuda o facto de nesta sociedade "tolerante" sermos imediatamente acusado de xenofobia por dizer uma frase como aquela.

Há muitos anos, no lado errado do Atlântico, começou o politicamente correcto. Felizmente que alguns líderes, e é uma pena que são apenas de direita, estão a começar a desgastar esse conceito infame, de tal modo que até começo a desejar que ganhem eleições. Aznar não disse nenhuma "inverdade".

P.S.: só numa altura de pleno politicamente correcto uma palavra como "inverdade", que nem chega a merecer o estatuto de palavra já que não passa de um grunhido, poderia ser usada com tanta frequência.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

E Depois do Adeus (Paulo de Carvalho)

A música que deu início à revolução parece escrita para as gerações seguintes. É pena é que a parte que mais "nos" cabe é a primeira estrofe...

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

25 de Abril

A intensidade da revolução é notória nas fotos.

Provavelmente a máquina fotográfica foi inventada para poder captar as imagens da nossa revolução. :)

Cerco aos TLP, 1974

Quando os militares são a paz e o pacifismo.

sábado, 21 de abril de 2007

sábado, 14 de abril de 2007

Se podia 100, porquê só 30?

Foi transmitido durante a semana um documentário sobre Portugal desenvolvido por António Barreto. O assunto era a mudança de vida e de modo de vida com a passagem da maior parte dos Portugueses de um ambiente rural para um ambiente urbano. Já tinha noção de grande parte do que foi abordado, o que não foi suficiente para impedir o choque com aquelas imagens e situações. Mas que não haja equívocos, os bairros de lata do passado (e presente) são muito menos chocantes do que o desperdício de vidas em filas de carros.

É feito um relato bastante extenso, na primeira pessoa, de uma mulher que mora a 1h30 do local de trabalho. Trata-se de uma mulher na casa dos 30 anos, mãe de 2 filhos, que tem um dia impossível. Começa às 5h da manhã e acaba à 1h da manhã - em princípio aquelas 4h que sobram são para dormir. Tudo me parecia terrível, uma mulher condenada a trabalhos forçados!, até que chega a parte de explicar melhor o trabalho que faz...
Esta mulher é proprietária de um centro de estética, trabalha por conta própria. Abre às 9h, não encerra para almoço e, desde que o marido passou a ter disponibilidade para ir buscar os filhos à escola, fecha só às 8h da noite. Todo este sacrifício e tempo de trabalho é a pensar nos filhos, nas suas palavras "não lhes vou dar 30 se posso dar 100". Não se trata portanto de uma questão de grande necessidade.
Ao fim de contar esta história de trabalhos forçados e lhe perguntam qual é o maior sacrifício que faz por ter uma vida assim; ela responde que é não poder estar com os filhos. Diz que eles sentem a falta dela, principalmente o mais novo, e que quando chega a casa jáé tarde e tem de executar mais algumas tarefas - o que é impeditivo de passar qualquer quantidade de tempo com os fihos.

Parece que nesta coisa de dar aos filhos há 2 tipos de 100 e de 30, sendo a prioridade orientada para a, menos valiosa?, criação de valor. Com o passar do tempo as 100 coisas que os pais puderam dar aos filhos vão-se desgastar, desaparecer, e com esse desaparecimento vai todo o legado que deixaram. Talvez transmitam uma coisa: uma distorcida noção de prioridades.

Os problemas de sempre no trânsito.

sábado, 7 de abril de 2007

O bom traidor

Chegou a Páscoa, que melhor altura para dar uma vista de olhos ao Evangelho de Judas. É um texto gnóstico que, como muitos outros, não foi escolhido na compilação da bíblia. Desconhece-se o critério de selecção, já que aparentemente são todos igualmente válidos. Foi uma pena pois este evangelho é dos poucos que faz algum sentido e vai um bastante mais além em termos de conteúdo.

A tradução para inglês do que restou do documento, que não pode ter sido escrito por Judas, encontra-se aqui.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Pela boca morre o peixe

"A única coisa pior do que falarem de nós, é não o fazerem."
(Wylde)

Não se falou muito do Infante D.Henrique nos últimos tempos. ninguém se lembrou, pelo menos até ontem, de o chamar fundamentalista religioso, terrorista cristão, pai das desgraças da globalização. Não, dele apenas se disse o banal, teve um documentário bem humorado, mas isso não chega. Sem polémica não há necessidade de defesa do infante, sem polémica não se fala do infante. Já toda a gente sabe que ele é um grande português, eu até achava que era o maior, mas não teve sorte. Já não tem amigos nem inimigos, e já se sabe, a única coisa pior do que falarem de nós, é não o fazerem.


Outras figuras têm mais sorte. Ou menos estabelecidas como figuras, ou com amigos e inimigos ainda vivos. Deles há muito para dizer, discutir, para levar demasiado a sério. Até nos Grandes Portugueses se conseguiram arranjar os três grandes, quem sabe até um sistema! Desses podemos confirmar que a única coisa pior do que falarem de nós é não o fazerem. Tivessem os ruidosos estado calados e podiam evitar o que desejavam evitar (e eu podia ter evitado ouvi-los!, o que seria ainda melhor). Mas não, gente sem tacto nem trato, inventaram logo um sistema para ter o resultado contrário ao que pretendiam.

Por fim, posso dizer que a única coisa pior que falarem dele, é não o fazerem. Afinal, que sei eu de Salazar? Muito pouco e com pouca fiabilidade. Daí que convenha falar dele, tal como eu muitos outros desconhecem Salazar. Na verdade, quase ninguém o deve conhecer já que o que se sabe é profundamente propagandístico. Até o Diabo deve ter as suas virtudes, só não teve oportunidade de ter algum apoiante a escrever na bíblia.
Infelizmente não é possível falar de Salazar. A geração anterior à minha, a tal geração que fracassou, vive da propaganda - seja ela para o lado da luz ou da escuridão... ficarei pouco melhor em termos de conhecimento depois do que se disse sobre ele no programa de televisão.

Hoje pude ver este artigo (poderia chamar-se as grilhetas da liberdade). Ontem pude ver como o princípio democrático do voto é bem aceite... desde que vá no sentido que desejamos. Talvez devessem falar mais de Salazar, para saber o que de facto se passou. Pelo menos ninguém pode acusar Salazar de inventar contratos de trabalho de 3 meses (no futuro isso também deverá ser motivo de debate...).
Quando não se fala o suficiente da realidade e se vive de propaganda corre-se o risco de repetir erros e de fracassar nas intensões. Parece que, em muitos sentidos, pior do que falarem dele, é não o fazerem.


PS: confesso-me indignado, mas com um finalista que ficou em terceiro por salvar uns poucos de judeus. Os portugueses são maiores do que isso...

quarta-feira, 21 de março de 2007

segunda-feira, 19 de março de 2007

Capítulo XVIII, Séc. XXI

Maquiavel deu ao capítulo XVIII de "O Príncipe" o título "Guardemos-nos de ser odiados e desprezados" (de contemptu et odio fugiendo). Nele encontraremos esta passagem bastante actual:

O reino da França é dos mais bem ordenados e governados de que se tem conhecimento no nosso tempo. Nele se encontram inúmeras e boas instituições, das quais dependem a liberdade e a segurança do rei. A primeira é o parlamento e a sua autoridade, pois aquele que estabeleceu a forma de governo deste reino, conhecedor da ambição e da presunção dos mais importantes e achando que precisavam de qualquer espécie de freio para os sofrear, e conhecendo também o ódio, baseado no medo, que a maiora tem pelos grandes, e desejando tranquillizá-la, achouque convinha poupar ao rei o rancor que inspiraria aos grandes senhores, ao aliviar o fardo da arraia miúda, ou esta, ao favorecer os gentis homens. Por isso constituiu um terceiro juiz, que, sem que o rei crie inimigos, castiga os grandes e favorece os pequenos. Esta instituição não poderia ser melhor, nem mais sensata, nem proporcionar maior segurança ao rei e ao reino. Daqui se pode tirar uma boa advertência: os príncipes devem confiar a outros os papéis que concitam rancores e tomar para si os que atraem o reconhecimento. Repito, outra vez ainda, que o príncipe deve prestar atenção aos mais importantes, mas sem se fazer diar pelo povo.

terça-feira, 13 de março de 2007

Moi Dix Mois - Solitude [Live]

Os Moi Dix Mois são um projecto do guitarrista, Mana, e parece que gosto cada vez mais da música deles. Além disso a banda parece funcionar bem em palco, é espetacular.

Página oficial (onde se podem encontrar informação sobre o albúm que sairá brevemente):
http://www.midi-nette.com/mdm/

quinta-feira, 8 de março de 2007

segunda-feira, 5 de março de 2007

Armas de Marte

quinta-feira, 1 de março de 2007


Marte chegou

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Portugal vs Rocky

Acabou de sair um filme do Rocky, e é um filme bastante interessante. Uma das cenas do filme é particularmente adequada para os portugueses, e vem precisamente de um personagem que não é dos mais inteligentes que já foram criados.

O Rocky nessa cena está a dar um sermão ao filho, filho que dizia que a fama do pai o punha na sombra, que culpava um pouco o pai pelas suas dificuldades de integração. O pai apenas lhe fez mostrar que a vida é dura para todos e que ele está a arranjar desculpas para as fraquezas que tem.

O Ballboa filho fez-me lembrar Portugal. O programa Grandes Portugueses mostrou o quanto uma certa parte da população tem dificuldade em justificar o seu próprio fracasso e culpa o Estado Novo por tudo. Já tinha visto esse fenómeno no livro "Portugal: o medo de existir", parece que foi Salazar que inventou Portugal, que antes não existia nada. Ou pior, dá a ideia de que Portugal era um espaço fantástico e que as agruras da ditadura é que estragaram tudo. Antes tínhamos um ensino muito à frente do alemão, uma cultura que ultrapassava a francesa num piscar de olhos, um império que fazia inveja aos ingleses. O Estado Novo é que nos veio atrasar, nós antes éramos a inveja de todo o mundo, e se agora não somos outra vez os maiores é porque o Salazar nos mutilou e não somos capazes de fazer nada.

Responsabilizar um pequeno espaço da nossa história por tudo o que é mau é digno de cobardes fracos, que é o que uma boa quota de portugueses é - e não foi invenção de Salazar. Felizmente parece que já há muitas pessoas capazes de ver para além da demonização de figuras.


Mas agora já não é preciso fazer mais as pazes com a história, vão lá votar no Infante D. Henrique.

Comunidade dos jogos de vídeo - o caso da Imprensa *

A comunidade existente

Tal como foi mencionado anteriormente a comunidade tem um papel fundamental na determinação do que é arte ou não. Ao concluir apresentei o facto de a comunidade existente ser fechada e não conseguir, ou tentar, comunicar com o exterior. Não contribui para que os jogos de vídeo façam parte da cultura geral, no entanto não deixam de ter efeitos dentro da sua comunidade fechada.
São elementos da comunidade:
• os jogadores, que podemos distinguir em:
 ocasionais / casuais ;
 “hardcore”, sendo estes últimos em menor número mas grandes consumidores e que se mantêm bastante bem informados;
• a imprensa;
• as produtoras de videojogos.

Cada elemento tem um papel ligeiramente diferente, descrito nos passos seguintes.


O papel que a comunidade – a imprensa

Há um grande número de publicações que testa os jogos e os avalia, geralmente atribuindo-lhes uma nota, tal como um professor que corrige os trabalhos dos alunos.
Este tipo de teste geralmente assenta fundamentalmente na parte técnica: gráficos, som, jogabilidade. Uma nota ao jogo na sua globalidade, enquanto conjunto e interacção dos vários elementos, nem sempre é atribuída, ou é-o muitas vezes na forma de média de cada um dos valores dados aos elementos tradicionais. A análise é fundamentalmente técnica e assenta bastante na comparação com o que é a referência no momento. De facto raras são as publicações que valorizam a componente artística, ou a inovação (muitas vezes confundida com a novidade, que se resume a colocar pequenas coisas novas nos jogos, melhorias de gráficos ou acréscimo de um ou outro extra). O facto de se comparar com a referência no momento leva a um enviesamento das avaliações para o padrão, penalizando quem não partilha a mesma “onda”. Ainda podemos considerar um elemento como a dificuldade que, de forma uma pouco inexplicável, não é raro penalizar a nota do jogo caso seja elevada. A respeito da dificuldade há pouco consenso entre os jogadores, podemos considerar no entanto que, regra geral, quem prefere jogos mais difíceis está no grupo dos jogadores “hardcore” (o termo pode ser usado para se referir exactamente ao jogador que prefere um desafio maior, será essa a definição que encontram na wikipedia).
Além do enviesamento há ainda questões do jogo que são menosprezadas, como por exemplo a história, caso exista, a qualidade dos textos e diálogos e construção de personagens. Podemos incluir neste grupo a inteligência artificial, que não é particularmente valorizada desde cumpra os mínimos (pode ser penalizadora, se elevar a dificuldade do jogo vai ter efeito na categoria da dificuldade). A inovação no sentido de alteração do aspecto (novas formas de expressão visual e sonora), jogabilidade ou conceito de jogo para algo fora do que está na norma não só é geralmente menosprezada pode ser penalizada pela generalidade das publicações.
O facto de se fazer uma análise tratando como igual todo o género de jogo (RPG avaliado por critérios semelhantes aos de um FPS, por exemplo) também em nada contribui para o rigor e qualidade das avaliações.

A minha consideração sobre a imprensa especializada é que geralmente é fraca e tem critérios de avaliação mal definidos. Como os jogos não são levados muito a sério e têm uma grande parte do público em camadas mais jovens, grande parte das publicações tem um nível baixo de qualidade. Um fenómeno estranho é que grande parte das publicações atribui notas altas a quase todos os jogos, colidindo com a ideia de alguns de que os jogos estão a atravessar uma crise. Outro factor que penaliza estes testes é o facto de este tipo de imprensa ser relativamente recente, não estando ainda consolidados métodos de avaliação (em parte porque não se faz um estudo rigoroso do que é um jogo de vídeo). No panorama internacional há algumas publicações de referência (Famitsu, Edge), não são no entanto as mais vendidas e que atingem mais jogadores, principalmente ocasionais. Muitas vezes fala-se da nota atribuída por estas revistas para dar credibilidade ao jogo.

Sobre as notas dos testes, podemos considerá-las funcionais mas não fundamentais. São tantos os problemas e limitações no teste de um produto complexo como um jogo que uma avaliação apenas em texto poderá ser suficiente (e até mais exigente, tanto ao jogo como a quem elabora o teste).
Os testes elaborados vão interferir com os restantes elementos da comunidade e afectam o rumo que é dado à evolução dos jogos de vídeo. Primeiro porque o seu tipo de avaliação vai passar a ser o tipo de avaliação que muitos consumidores vão fazer, o que leva a uma sobrevalorização de uns aspectos em detrimento de outros. Depois porque quem produz jogos se vai preocupar em satisfazer a imprensa e receber avaliações positivas, dando particular importância aos elementos que vão ser avaliados.
Dado o conservadorismo, essencialmente técnica e pouco ligada à parte artística, da imprensa e a sua importância nos restantes elementos da comunidade podemos desde já concluir que os jogos se desenrolam num ambiente avesso à inovação* e favorável à novidade*, ou seja, o desenvolvimento pleno dos jogos enquanto forma de arte, que requereria liberdade e criatividade, sofre a castração da comunidade “liderada” pela imprensa, que deseja um desenvolvimento na linha do que está habituada. Cria-se um paradigma e, tal como na ciência, quem está dentro dele vai resistir às eventuais agressões dos novos conceitos de jogo.

Um desenvolvimento intelectual da imprensa que estimule a inovação é desejável e fundamental para divulgar essas novas ideias. Tal como na ciência, se os defensores de novas teorias não conseguirem comunicar com a restante comunidade verão o seu esforço e trabalho resultar em nada. Também aí o papel das publicações é fundamental na difusão de novos conceitos (teorias). No caso da imprensa especializada nos jogos de vídeo há uma certa inconsciência do seu papel.

Para que não fique a impressão de que só há aspectos negativos do processo actual convém apresentar os pontos positivos. Um deles é que o paradigma tem o mérito de criar uma linguagem, quem está dentro do universo dos jogos já tem um conjunto de conceitos e capacidades que decorrem da sua envolvência com os vários jogos e comentários a jogos. Esta linguagem não tem de ser abandonada, a meu ver tem de ser expandida. A avaliação técnica não deve ser abandonada, apenas se lhe deve retirar alguma importância.


*Nota:
Nos termos que uso, a inovação remeto-a para a parte artística enquanto que a novidade é remetida para a parte técnica. Entre elas distingue-se ainda que a novidade é fungível ao passo que a inovação é durável.
A novidade, longe de ser inútil, possibilita mais inovação através de um alargar das restrições técnicas.


* retirado de estigma2005

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Jogos de Vídeo - arte? *

Uma das questões que se pode pôr actualmente é se o jogos de vídeo são arte. Para muitos são não passam de uma actividade para jovens, com pouca substância e com grandes doses de violência. A maior parte das pessoas nunca jogou um jogo de vídeo, é para esses um produto estranho em relação ao qual devem manter distância.
Apesar de esse equívoco geral, quem está dentro do universo dos jogos deve interrogar-se - os jogos de vídeo são arte?

A minha resposta será - sim, são arte. Resultam de uma combinação de imagem, som, jogabilidade, têm histórias e mensagens que é preciso intrepretar. Deste ponto de vista o jogo é arte simplesmente porque resulta de uma combinação de artes.

Alguns jogadores dão uma resposta ligeiramente diferente, preferem dizer que alguns jogos são arte e outros não. Os motivos e critérios são-me estranhos, há nesses casos uma grande subjectividade sobre se um dado jogo é arte ou não. Penso que nestes casos o problema se resume de uma forma mais simples: há arte boa e arte má. A ideia que tentam transmitir quando dizem que "não é arte" é que não presta, é fraco, em resumo, é má arte. A minha óptica é mais simples e, apesar de não isenta de problemas, é um raciocínio bastante básico considerar que os jogos são arte porque resultam de uma combinação de artes.

Aquilo que mostrei até agora resume-se à arte numa prespectiva subjectiva, a minha opinião e a opinião dos outros. Pode existir um critério de demarcação de arte e não arte. Eu não sei explicar o que é arte, apenas sei dizer que um objecto é arte ou não. Talvez pelo cheiro ou outra qualquer propriedade mística, o que em geral sabemos fazer é definir algo como arte de uma forma intuitiva.
Esta questão assemelha-se a uma outra, também muito debatida, que diz respeito a "o que é ciência". Já antes falei em critério de demarcação, vocabulário que não será estranho a quem já conhece o caso da ciência.

Conseguimos nós dar um critério de demarcação para distinguir arte de não-arte?
Mais ou menos...

Tal como alguém sugeriu no caso da ciência, a arte não é uma construção individual. Há todo um meio envolvente, uma comunidade, eles dizem o que é arte e o que não é. Têm Um Critério? Na maior parte dos casos não, é mais uma questão de quem é mais convincente a persuadir o outro da sua opinião.

Esta dinâmica de discussão e debate para a comunidade determinar por si o que é arte ou não é arte pressupõe que existe uma comunidade, que tem uma voz comum representativa dessa arte (neste caso, os jogos de vídeo) e que é suficientemente forte para comunicar com as outras comunidades e indivíduos. A arte é definida como construção social e não com um critério "simples" e objectivo. A comunidade tem de comunicar entre si através de encontros e publicações especializadas (já existentes) e comunica "para fora" através do meios mais ou menos tradicionais de comunicação que existem (é neste campo , que levaria a um maior reconhecimento dos jogos, que ainda há muito por fazer). O ideal é que os jogos se enquadrem naquilo que podemos chamar "cultura geral", os conhecimentos simples e superficiais, conhecidos por todos, de assuntos mais vastos e complexos. Esse é um passo fundamental para que os jogos entrem para a categoria de arte e deixem de ser uma mera proeza de engenharia.

Conclusão
A partir do que disse podemos concluir que o jogos não são arte. Pode existir uma minoria de pessoas, como eu, que já estão a tentar divulgar o jogos de vídeo como produto artístico e capaz de ser uma expressão cultural de uma comunidade. No entanto isso não é suficiente, para que seja arte é necessário que seja aceite pela generalidade como tal. Não se trata de uma questão de mérito e capacidade, é antes uma questão de notoriedade e poder. Os jogos serão arte quando tiverem força suficiente para se afirmar como tal.


* retirado do estigma2005

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Uma frase verdadeiramente memorável

Coisa notável, demonstrada pela observação: o amor grandioso é tanto mais profundo e tanto mais voraz quanto ais pequeno local de onde se escreve! Nada que se compare em majestade aos rasgos de pena de Ovar, de Espinho ou de Estarreja se nos conta que ali chegou o polícia 34 para fiscalizar a decência da praia, que choveu na véspera, ou que por delibareção camarária se está pintando o candeeiro da Rua Nova, em frente da caixo do correio!
Decididamente - e é trist ponderá-lo - a literatura é tanto mais pomposa quanto mais provincial.
De uma pequena praia de banhos escrevem ainda hoje uma das folhas da manhã:
"Esta ténue fímbia de areia osculada pelo Atlântico está sobrepujando e fazendo rosto em competimentos de garradice às praias de maior tomo. Grande é o número de cavalheiros que ora veraneiam nesta estância balnear."

E um outro escreve acerca da morte de uma jovem senhora da sua localidade:
"Dramas cruelíssimos da vida real! Reclama a tousa do sepulcro as heras e os goivos que têm de cobrir aquela que a morte arrebata no vicejar dos anos e em que florescem as singelas virtudes que no lar remansoso dulcificama travor acerbíssimo da existência!"

No jornalismo da capital dizem-se as coisas terra a terra, muito mais simplesmente. Assim, no dia em que parti de Lisboa, um necrologista resumia todo o elogio do seu morto na seguinte frase verdadeiramente memorável:

"Nele corriam todas as virtudes cívicas e domésticas e vice-versa!"

(Em "As Farpas" de Ramalho Ortigão)


Realmente, uma frase memorável.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Aborto e o comunismo de quando existia comunismo

O Abrupto.blogspot.com apresenta o que seria uma provável opinião de Cunhal sobre o aborto. Depois de escrever a "A cor do ar" ler estes textos foi uma coincidência surpreendente. O texto está divido em duas partes:
Parte 1
Parte 2

É estranho mas consigo concordar com uma grande parte desses textos. Apesar de alguns excessos normais na propaganda há um fundo de verdade no que foi escrito.

Votaria Cunhal no Sim ou no Não?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

* Crónicas da Geração Racional - O caso João

O menino João é um homem racional. As suas primeiras palavras, que deixaram os pais em delírio, foram: "isto é o máximo!".

Aos 5 o João analizou a sua situação de forma racional e concluiu que a sua existência já não se encontrava no máximo, isto porque a sua mãe lhe provocava uma certa desutilidade devido a uma certa depressão. Apresentou a sua análise ao pai, um homem altruísta, e sugeriu-lhe que devia matar a mulher, pois o "cash flow" esperado proveniente do seguro de vida tinha uma utilidade superior à desutilidade do desaparecimento da sua mãe. Altruísta como sempre, o pai mostrou preocupação com os cuidados que não poderia dar ao filho enquanto estivesse preso, mas foi imediatamente tranquilizado pelo João. O João recorreria ao "outsorcing" de pais, bastaria um pai ou uma mãe pois cada novo progenitor traz um acréscimo de utilidade decrescente e, feitas as contas, não valia a pena pagar dois salários. Mostrou ainda outro benefício do novo progenitor, ele definiria como requesito que o tratassem por "Jó" em vez de João, ganhando assim tempo sempre que o interpelavam. Sempre leva menos tempo dizer "Jó, vem jantar" do que "João, vem jantar". O pai estava convencido com estas grandiosas vantagens para o seu filho.

O pai, altruísta como não podia deixar de ser, executou o plano e, evidentemente, tudo correu como o "Jó" planeou.

Aos 30 "Jó", consciente de que se tivesse filho não poderia continuar a ser um homem racional e passaria a um estado do altruísmo compulsivo, optou por não ter filhos. O mesmo sucedeu com a sua geração, já ninguém queria ter filhos. Até porque era muito mais rendível trabalhar como fornecedor de cuidados parentais.E assim foi a história da última geração da humanidade, geração que já evoluiu até ao estado de "homo economicus" e que, de forma completamente racional e baseada no facto de a utilidade de ter filhos não compensar a desutilidade de passar a um estado de altruísmo, optou pela extinção.




* Este texto já tinha sido publicado noutro blog, no entanto devido ao abandono desse blog e à minha intenção de continuar a escrever estas crónicas decidi passar a primeira para aqui, desta vez com menos erros e calinadas várias.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Já não me recordo quem sugeriu esta imagem para o que se passa actualmente em relação aos jovens. Este é um quadro que revela bem o espírito que chegou a faltar no programa Prós e Contras de ontem, cujo tema eram os jovens actuais.

Francisco de Goya - Saturno devorando a un hijo (1821–1823)