domingo, 9 de setembro de 2007

C.C.B.

Ao homem desamparado não se lhe podem pedir contas do pacto social, porque a sociedade não quis aliança com ele quando o desamparou. Ao homem do trabalho, que subsiste do seu salário, se lhe tiram a enxada da mão, concedem-lhe o direito tácito de se revoltar contra alguém que o alimente. (...)

Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países.

Citações de Camilo Castelo Branco em Vida do José do Telhado.

Nestas passagens encontro dois elementos de relevo. Um é a da justificação da pobreza extrema para o saque. É de realçar no entanto que tal argumento só se aproveita quando a palavra pobreza vem acompanhada da palavra extrema, coisa cada vez mais rara no nosso país e continente.

Na segunda passagem algo mais frequente, a tentativa de enfiar na máquina e a 90º o nosso povo de algodão. O comentário, directamente do século XIX, mostra que não só temos o hábito de encolher em pouca água a ferver, como que o tamanho já era o "XS". Serve de exemplo para aqueles que acreditam que umas poucas décadas do século XX moldaram as mentes dos portugueses. Não, esse espírito já vem de outros tempos.

Sem comentários: