segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Natal, uma falta de bom senso

Imagine uma mulher de 19 ou 20 anos, oriunda de uma família pobre e que se vê a braços com uma gravidez indesejada. Essa jovem é casada, mas o marido não só é pobre, um mísero carpinteiro, como também não é pai do filho que a mulher carrega, facto que lhe provoca algum transtorno. Vamos chamar-lhes Maria e José, nomes fictícios.

Para uma situação destas que dita o nosso refinamento de civilização superior? Ora vejamos:
- família pobre, não garante o sustendo da criança nem lhe garante um futuro promissor;
- gravidez indesejada numa rapariga praticamente adolescente e casada com um homem que não é pai da criança, elemento que não garante condições harmoniosas para o crescimento da criança.

É bastante óbvio que o filho destes dois, mais de um que de outro, não tem futuro e será um caso perdido. O mais provável é tornar-se um delinquente, um criminoso, acabará os seus dias metido em problemas com a lei, será julgado e condenado.

Neste caso uma insistência por parte de Maria e José, nomes fictícios, em levar a gravidez até ao fim seria uma grande inconsiência, reveladora de um sentimento egoísta em relação à criança que vem ao mundo apenas para sofrer. É um daqueles casos evidentes em que o aborto é a melhor solução.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Andar em círculos

Nas considerações sobre os EUA do Planisfério Pessoal surge o assunto das várias mudanças de casa, cidade, estado, que um americano faz ao longo da sua vida. Simultaneamente o cenário americano é caracterizado pela igualdade, o espaço parece homogénio, muda-se de cidade e não se nota a diferença. Cidades iguais, com as mesmas lojas, os mesmo restaurantes, os mesmo cafés, até as mesmas casas. Segundo o texto 75% das vivendas americanas segue o mesmo modelo, um americano pode mudar de casa e passar para outra exactamente igual - só tem de se adaptar ao novo número da porta.
Num país onde se fala a mesma língua e onde tudo é idêntico as viagens e mudanças de casa são uma caricatura, Mudamos de sítio e sem que grande coisa se altere. Como a descrição da américa também não é muito favorável no que toca às relações humanas, a viagem torna-se ainda mais fácil, até os amigos parecem padronizados.

É difícil considerar o país como a terra da igualdade, é antes a terra da não-diferença. É a irona da terra do capitalismo ter um nível de padronização só comparável ao dos Estados comunistas.

You can paint it any color, so long as it's black ainda é o melhor lema sobre a liberdade de escolha no capitalismo mais aguerrido.


Sobre o Planisfério Pessoal

Ao fim de alguma espera lá chegou o meu livro, o Planisfério Pessoal. É de leitura rápida, em pouco tempo li um terço do livro, e na maior parte do tempo relata impressões e considerações sobre as pessoas que vão encontrando o jornalista ao longo o caminho. Ainda não passei do continente americano e tudo o que li só reforçou as minhas intenções de manter uma distância segura em relação a esses territórios, um oceano de distância será suficiente.

Nas minhas leituras recentes entretive-me com Wenceslau de Moraes e, quando me dá para meter as mãos nas Farpas, Ramalho Ortigão. Gonçalo Cadilhe ainda não é adversário à altura dessas velhas raposas - a idade cansa a vista e melhora a visão.
Além destas inevitáveis comparações entre quem tem alguma semelhança no assunto sobre o qual escreve, adianto que tal como n'As Farpas o Planisfério Pessoal não transmite a sensação de livro, não está articulado para isso e a inclusão de algumas caixas com uns "à partes" que não podiam desaparecer não ajuda - faz transparecer que se trata de uma compilação, o que de facto é.
Com alguns defeitos o livro parece ser bem sucedido na sua intenção de contar as histórias da história de uma volta ao mundo sem usar o transporte aério. A sua actualidade e apresentação daquilo que não costumamos saber sobre vários países tornam o livro útil e interessante. Muitas vezes o autor tenta transmitir os seus sentimentos enquanto viajante, não é bem sucedido e esse fracasso dá um ar de vulgaridade. Felizmente algumas entrevistas ao escritor facilitaram a exposição desses sentimentos que se revelam bastante interessantes e poderiam enriquecer o texto se tivessem sido representados com outras combinações de letras.

Um bom livro de viagem, original e pessoal. Dentro do género o escritor parece promissor.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Hoje o blog Abrupto apresenta uma foto de Viseu. Reconheci imediatamente o local, por acaso fica na rua de uma das entradas da Livraria da Praça e o fotógrafo deve estar quase à porta da livraria.

Planeio apresentar algumas fotografias da cidade, é uma questão de conseguir uma máquina emprestada.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

A cal e os homens

Entre considerações sobre o desenvolvimento económico e social do país no tomo I d'As Farpas, com o cenário pessimista que sempre fazem os desta poderosa escola a que Ramalho Ortigão diz pertencer (a dos bota-abaixo), encontramos um comentário curioso sobre a cal e a limpeza dos homens.

Por nenhum dinheiro no mundo um alentejano, um estremenho ou um algarvio entraria nu em uma latrina como fazem os minhotos para o negócio do estrume. Basta comparar as habitações alentejanas, esmeradamente asseadas, com os chiqueiros das famílias pobres do Minho.
- É porque no Minho não há cal.
- Mandem-na vir!
- É o que eles fazem; mas como a cal não está no solo o asseio não está nos costumes. Olhe Afife, como é uma povoação asseada! Porquê? Porque os de Afife são todos estucadores: é a especialidade da profissão que os familiriariza com a cal. Onde a casa é negra o homem é sujo.
- O senhor cuida então que o que falta no Minho é cal? Pois eu entendo que o que lá falta é gente. A população do minho é uma população de refugo. A emigração é um agente selectivo exercendo-se no sentido de operar a decadência. O minhoto mais forte, mais robusto e mais inteligente vai para o Brasil...
- Enriquecer!
- Sim; enriquecer o Brasil com a sua inteligência e com o seu trabalho, e empobrecer a sua terra pela ausência da sua capacidade e da sua força no conflito da civilização local.
(...)

Aqui encontramos duas questões pertinentes, uma da relação da cal com o asseio, que é muito sugestiva para os níveis da limpeza em grande parte do mundo - apesar de remotamente válida. A outra diz respeito ao efeito da emigração e ao engano que é acreditar que o dinheiro de algibeira proveniente dos emigrantes traz desenvolvimento às regiões. As minhas recentes impressões sobre o Minho são a da continuidade da pobreza relativa, noutro patamar é claro. Quando as regiões se esvaem em gente só podem contar com a falta de vigor para toda a acção, não há arremesso de dinheiro que traga desenvolvimento. Acrescente-se que este mal não é característico do Minho, é um mal das nossas províncias nos diferentes pontos do espaço e do tempo.

Para quê ler os jornais se As Fartas nos fornecem informação ainda mais actual?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Puro Sangue Lusitano

As raças cavalares do norte da Europa foram criadas para o desporto e a competição. São artificiais. O ibérico é um cavalo é um cavalo com história única: é o mais completo, o mais polivalente, o mais belo, o mais corajoso, o mais nobre.
(Laetitia Boulin-Néel em entrevista na revista NS de 28/9/2006)

Esta é uma raça antiga, com idade estimada de 5000 anos, com a antiguidade a ser uma vantagem pelo constante aperfeiçoamento do animal. Figurando entre os mais antigos cavalos de sela, destacou-se ao longo do tempo, os cavalos ibéricos foram temidos por gregos e adoptados por romanos, fazendo da península um local de produção de cavalos para o império. Posteriores invasões mouras acabaram por ter um impacto indeterminado nas raças ibéricas já que é difícil determinar se foram trazidos cavalos do norte de África ou, pelo contrário, foram levados cavalos para África inflenciando as raças berberes.

O resultado é um animal polivalente com vastas capacidades físicas e emocionais. Isto pode ser constatado nas touradas, a actividade que garantiu a sobrevivência desta espécie, onde o desempenho do puro sangue lusitano é excepcional tanto a nível da coragem e frieza com que enfrenta o touro como na elegância, resistência e aceleração que são fundamentais para um bom toureio.

Um entendimento fácil com o cavaleiro e o seu espírito dócil fazem com que este cavalo seja adequado para actividades que vão para além do toureio, servindo como cavalo de trabalho, passeio ou para prática de outros desportos. Esta polivalência tem o seu simétrico na relativa raridade da raça, como se pode ver nas estatísticas indicadas abaixo. Após o 25 de Abril ocorreram problemas na manutenção das quintas onde o cavalo era produzido devido às nacionalizações. Uma lista de studs tem tido um contributo importante na manutenção da espécie, sempre com a preocupação de manter as suas qualidades e evitar os problemas de consanguinidade. Existem actualmente alguns puro sangue lusitano espalhados pelo mundo e a espécie parece ter encontrado um rumo novamente e desse modo garante o seu aperfeiçoamento e subsistência.

A sofisticação da escola de portuguesa condiz com a do puro sangue lusitano, com belos resutados a decorrer do entendimento e competência de cavalo e cavaleiro.

História do cavalo lusitano

Dados sobre o cavalo lusitano (e puro sangue árabe, outra espécie interessante)
Estatísticas
Associação de Criadores de Puro Sangue Lusitano



quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Livraria da Praça

A Livraria da Praça fica em Viseu, num local bastante escondido. Suponho que é uma forma de se parecer ainda mais com um tesouro, guardado entre ruas estreitas e rua pacatas.

Por vezes dá a ideia de o nome estar ao contrário, que Praça da Livraria seria mais adequado àquele espaço, já que lá se vendem livros como actividade completar ao ponto de encontro de pessoas pelos mais diversos motivos. Neste espaço são organizados diversos eventos de discussão e apresentação de todo o tipo de assuntos, desde o mais evidente- os livros - até temas mais descontextualizados como o comércio justo. Este espaço contribui assim para um desenvolvimento de bons hábitos de discussão, troca de ideias, movimento que gera energia para acionar o motor das ideias.

Torna-se assim evidente que este espaço está para além da mera livraria e vem criar na cidade qualquer coisa de atípica para o país, mais interessado em encontros de um vazio espalhafatoso.

A frequência de actividades é surpreendente, mais de uma por semana, e é resultado de um esforço continuado por parte de quem concebeu este espaço. Essa frequência acabou por destacar a livraria num artigo da Visão, um daqueles pequenos artigos que não fazem jus à dimensão das pequenas notícias.

Esta livraria é recomendada por tudo isto, é um bom sítio até para comprar livros. Sem ela não teria encontrado Wenceslau de Moraes e possivelmente este blog não existiria. Aqui está um exemplo concreto de como um espaço assim gera energia para o motor e cria movimento.

Podem dar um salto a:
http://livrariapraca.blogspot.com/

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Jamanta em vídeo

Um pequeno vídeo da jamanta que pode ser encontrada no oceanário.

Jamanta


Jamanta, conhecida também por manta ray, é um animal impressionante. A sua elegância é ainda maior que as suas dimensões, os dois factores combinados têm resultado que está à vista.
No oceanário de Lisboa mora um destes animais, da minha visita a esse espaço é o único de que me lembro, tal como quando saí de lá foi o único de que falei. Ele transmite, mais do que qualquer outra criatura daquele espaço, a sensação de estar preso. Tranquilamente voa em redor do tanque, nunca pára e não muda a velocidade, este ser é um autêntico viajante ou pelo menos porta-se como tal.
Em cativeiro parecia sofrer mais do que qualquer outro, parecia mais triste e tudo menos impressionado com os visitantes, deve achar-nos feios e sem graça, o oposto do que vemos numa jamanta. Num tanque cheio de cardumes este animal consegue dar a ideia de estar só, pelo menos de se sentir só, o que o torna ainda mais surpreendente já que em torno desta estrela estão sempre uns pequenos peixes satélite que vivem em simbiose com a jamanta.
Este é sem dúvida o animal mais extraordinário que vi até hoje.

domingo, 26 de novembro de 2006

Armas de Portugal - a origem dos castelos

Algures em Agosto deste ano uma visita fez-me notar que nos quadros antigos a bandeira de Portugal vai tendo um número de castelos diferente. Agora são 7, noutras alturas 12, 16 ou outro número qualquer conforme o gosto do rei da altura. Isto não é muito compatível com a tradicional interpretação de que estes castelos correspondem a 7 castelos conquistados no Algarve.
Os castelos surgem primeiro nas armas de Afonso III, que era impedido de usar armas limpas pela tradição da hieráldica de que apenas o descendente directo pode manter o brasão anterior sem alterações. Este rei apresenta fortes ligações ao reino de Castela, por via da mãe e do casamento, donde se deduz que os castelos no seu brasão se devam a essa influência e não por motivo de conquista de castelos no Algarve. Depois da inclusão desses castelos eles terão sido mantidos por tradição, num número a decidir pelo rei que tivesse necessidade de alterar o brasão do reino. A partir de 1495 o número de castelos fixa-se em 7 sem se alterar até aos nossos dias.

Armas de Afonso III

Brasão de Castela

Wikipedia

Portuguese Voyages 1498-1663

Portuguese Voyages 1498-1663, Tales from the Great Age of Discovery é uma colecção de textos portugueses do período de 1498-1663 traduzidos para inglês. Estranhamente não consegui encontrar os textos em português, encontrei alguns em francês.
De quaquer forma os textos são livros de viagem e cartas dos navegadores, algo que dá uma dimensão diferente a acontecimentos como a viagem para a Índia de Vasco da Gama ou a chegada ao Brasil. Muitos destes textos não são tidos como verdadeiros por muitos historiadores, pricipalmente estrangeiros, que por vezes tentam denegrir ou minimizar estes acontecimentos. O próprio títulos diz Tales from , como se fossem meros contos. Como determinar a veracidade dos textos é difícil prefiro acreditar que são verídicos e autênticos, até porque fornecem muitas informações por vezes de rigor surpreendente (como é o caso da medição de distâncias). Nota-se nos textos uma capacidade de observação que não tem paralelo nos portugueses de hoje, dá pelo menos para concluir que os problema actual não é genético...

Outro aspecto interessante é a reacção às novas culturas, aparentemente mais natural do que um cidadão da actualidade seria capaz. Quem ler os comentários em relação aos habitantes do Brasil não pode deixar de ficar admirado, já que se reconhecem várias virtudes e méritos a esses habitantes. O eurocentrismo ainda estava à espera do período das luzes.

Este livro, ou outros do género, são recomendados para quem goste de livros de viagens, de aventura ou de história, já que há um pouco de tudo nas suas páginas. Por exemplo, há muito suspense na estadia de Vasco da Gama na Índia.

Planisfério de Cantino (1502?), sendo Cantino o homem que roubou o mapa aos portugueses

Dos textos presentes no Portuguese Voyages 1498-1663 encontrei os seguintes excertos:
Roteiro da Índia
Carta de Pêro Vaz de Caminha a El-Rei Dom Manuel
Peregrinação

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Antes de "As Farpas"

Encontrei durante este verão uma edição datada de de Novembro de 1942 do Tomo I de As Farpas. O que me atraiu no livro não foi o escritor, Ramalho Ortigão, de quem apenas tinha ouvido falar, foi o estudo de Augusto de Castro que preenche a primeira parte desta edição. Pela data podem imaginar que o estudo é encantadoramente parcial, faz de Ramalho Ortigão o nosso maior escritor do século XIX e trata Eça de Queirós como um estrangeirado menor, um escritor a quem seria dado mais valor do que o merecido, um senhor do estilo com pouca substância portuguesa.

A edição completa das Obras de Ramalho Ortigão (...) constitui o mais belo monumento à glória do escritor que foi, sem dúvida alguma, o maior prosador português do século dezanove e vem, simultâneamente, pôr em relevo, na hora própria, a personalidade, exemplar e forte, do precursor admirável de todas as grandes ideias que, no campo do apetrechamento moral, material, estético e turístico, representam a actual ressurreição nacionalista de Portugal.

(...)

A obra de Eça tem as suas fronteiras no tempo e, à parte o estilo, que é o instrumento de arte mais dúctil que jamais foi posto a serviço da palavra portuguesa, a sua profundidade nacional é muito relativa.

(...)

O génio de Eça de Queirós é, no fundo, filho da Enciclipédia e o romancista descendente, em linha recta, de Flaubert, do romantismo e do naturalismo franceses. Há no corte da sua ironia uma nítida influência do humorismo inglês. Eça foi um grande escritor europeu nascido em Portugal - e, se nas suas obras o meio, as personagens, a paisagem, a observação são quase sempre estruturalmente portugueses, o molde do seu espírito, o talhe da sua prosa, a sua educação sentimental e crítica vêm-nos directamente do cosmopolitismo artístico do seu tempo.


Outras passagens procuram minimizar esta imagem de Eça, Augusto de Castro não seria completamente louco para tentar diminuir Eça de forma implacável. Mas eu, recheado destas influências de encantadora parcialidade, não as vou transcrever essas passagens. Estas servem de relato histórico do que se passou na cultura portuguesa do século XX. Não fique a ideia que a parcialidade seja má, honestamente só nos podemos considerar parciais em todos os assuntos, é esta parte que foi tomada que não é a mais frutuosa.

Sobre as Farpas e Ramalho Ortigão escreverei noutra altura.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Volume XII?

No passado dia 10 mencionei um trabalho de Hokusai acerca de pescoços que se alongam e permitem ver acontecimentos distantes. É possível que seja esta a imagem que Moraes menciona, uma imagem que na minha opinião não é particularmente bela mas serve muito bem para o exemplo que se pretendia dar acerca das visões.

Hokusai 1760-1849, Katsushika, Japão

De português para português

A wikipedia apresenta uma lista de escritores portugueses. Dada a extensão da mesma não a vou transcrever para aqui, em vez disso recomendo uma visita à tal lista, aproveitando para procurar os escritores dessa lista que já leram. Se forem como eu provavelmente não leram muitos, talvez uns 10 ou pouco mais. Por comparação com os leitores estrangeiros a percentagem de livros de portugueses que já li deve ser pequena, o que é péssimo como devem imaginar. Desse modo acabamos por ler obras que, apesar da sua possível boa qualidade, foram escritas para outra cultura, noutro espaço, contexto completamente diferente do nosso. Ao ler escritores portugueses ficamos a conhecer melhor Portugal, tudo se torna mais familiar e, de certo modo, mais interessante.

O uso da língua também é diferente, uma tradução afasta-se sempre do original, mesmo uma boa tradução gera uma obra inferior à original. Ao ler escritores portugueses temos acesso a um manusear mais habilidoso da língua, um ritmo mais agradável (se o escritor foi capaz de o criar).

Há já algum tempo que decidi que vou passar a ler escritores portugueses em regime de quase exclusividade, em parte porque reparei que a minoria de escritores nacionais que li deixou uma impressão mais duradoura do que a generalidade das restantes. Fica a sugestão.

sábado, 11 de novembro de 2006

Moraes nas suas tarefas de oficial da armada

O escritor português de que tenho vindo a falar foi oficial da armada. É dele que sopram os ventos que têm empurrado os assuntos do blog. Uma pequena pesquisa permitiu recolher imagens dos navios onde este escritor serviu a marinha portuguesa. Limito-me a indicar os navios de que recolhi imagens e o ano em que entrou ao serviço nesses navios, para uma lista mais completa ver aqui. Nos links encontramos informação sobre os navios e sobre o oficial.

Corveta Bartolomeu Dias (1874)
Fragata D. Fernando II e Glória (1875)














Corveta Sagres (1876)
Corveta Mindelo (1878)









Corveta Duque de Palmela (1879)
Canhoneira Rio Ave (1884)
Vapor Sena (1877)











Couraçado Vasco da Gama (1886)




















Wenceslau José de sousa Moraes, o homem e a marinha do seu tempo.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Mangwa de Hokusai

No texto "Sonhos" Wenceslau fala de uma Mangwa de Hokusai. Hokusai (1760 - 1849), um fecundíssimo e habilíssimo pintor, dá a imagem das pessoas cujo pescoço estica enquanto dormem, fenómeno que lhes confere a capacidade de ver acontecimentos distantes. Segundo Wenceslau a imagem encontrava-se no volume XII da sua obra, infelizmente não sei ao certo de que imagem se trata. Uma imagem conhecida de Hokusai será a seguinte, na qual vemos o monte Fuji.


Esta artísta tem influências ocidentais, o que se revela na noção de prespectiva do seu trabalho e o distingue no estilo oriental.

O trabalho é muito variado englobando mangas, livros de imagens, ilustrações de viagens, ilustrações eróticas, quadros e trabalhos em seda e madeira. (fonte)

Manga

Este pintor conflituoso deixou um legado de mais de 30.000 trabalhos, muitos deles podem ser encontrados aqui. Se encontrar o quadro dos pescoços que se alongam durante o sono informe-me.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Túmulo de Atsumori

Túmulo de Taira no Atsumori (Atsumori no haka)
séc. XII, Kobe, Japão

Mencionei este túmulo no último text, achei por bem dar a conhecer a sua história de forma sintética.
Taira no Atsumori foi um samurai no séc.XII, pertencia à família Taira, na época em guerra com a família Minamoto. Após uma batalha que a família Minamoto venceu, Naozane, um samurai que seguia essa família, viu um nobre Taira em fuga. Tendo em vista a recompensa perseguiu-o e enfrentou-o numa luta. O resultado dessa luta foi favorável para si e, antes de lhe retirar a cabeça, retirou-lhe o elmo. Tratava-se de um jovem de 16 anos, mais ou menos a mesma idade do seu filho que tinha perecido na batalha, algo que encheu o samurai de remorsos e refreou a vontade de receber a recompensa. No entanto, por pressão dos que o rodeavam, incluindo o jovem Atsumori, Naozane seguiu com o seu dever.
Incapaz de viver com o seu acto, Naozane recusou a recompensa e enviou a cabeça e os despojos ao pai do jovem, seguindo a sua vida como bonzo num mosteiro. No local onde decorreu o combate ficou o túmulo de Atsumori, aquele que vimos logo no início.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O turista e o viajante

O escritor de que tenho falado foi um grande viajante. Como oficial da marinha portuguesa andou por todos os mares, visitou todas as colónias, conheceu outras nações e outros povos. Foi mais longe, casou com uma não portuguesa de um país distante.
Ao visitar um país sujeitou-se às condições locais, por exemplo estalagens caóticas na China. Enquanto viajante manteve-se atento aos locais e às pessoas, que ficou a conhecer e, dentro do possível, compreender. Nele há o caso particular de ter como maior memória os camaradas dos navios em que serviu, a dimensão humana vem sempre em primeiro lugar. No encontro com monumentos há um reconhecimento do simbolismo de cada um, alguns têm um grande impacto emocional nesse viajante pelo simbolismo ou ambiente que carregam (bem visível em "O túmulo de Atsumori", parte do livro Ó-Yoné e Ko-Haru).
A visão do homem é central na viagem, conhecer os outros ou até a nós mesmos, reconhecer a dimensão humana das coisas e locais.

Em princípios do séc. XX não existiam muitos viajantes, muito menos em Portugal. Em princípios do séc. XXI existem muitos turistas.

Um turista corre de ponto obrigatório em ponto obrigatório, com máquina fotográfica e respectivas munições, físicas ou energéticas consoante a sofisticação da arma. Abre-se fogo contra o monumento, às vezes ataca-se de fora para dentro, outras de dentro para fora, dispara-se até não sobrar pedra sobre pedra por bombardear. Fash! Fash! Bang! Bang!! Às vezes começa um perseguição por porte indevido de arma no estabelecimento, é preciso ser cauteloso...
Enquanto dura a batalha não é fácil observar, muito menos sentir. A guerra é uma situação extrema, a percepção fica deturpada, a velocidade é essencial para vencer as batalhas, temos sempre de correr para o seguinte ponto estratégico, temos de conquistar aquele território e levar troféus para casa.
Alguns pensam em desertar. Dizem-se cansados, aborrecidos, sem interesse, uns desavergonhados. Lá vão para o hotel, com as estrelas que os nossos padrões internacionais garantem, descansar. A guerra não é para todos, só os bravos subsistem.

Fica aqui o manifesto a favor do turista pacífico, o viajante.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Livros On-line

Cada vez mais podemos encontrar livros para carregamento no computador. Infelizmente estão dispersos e as bibliotecas nacionais ainda não têm bases de dados significativas. Deixo no entanto algumas páginas que fornecem livros.

A Biblioteca Nacional já digitalizou alguns livros, podem ser consultados em:
http://bnd.bn.pt/

Em inglês há uma maior variedade:
sobre filosofia - http://www.epistemelinks.com/
sem assunto definido - http://www.marxists.org/
autores institucionalistas (economia) - http://www.orgs.bucknell.edu/afee/InstReads.htm

Bibliografia de Wenceslau de Moraes



A bibliografia de Wenceslau de Moraes, escritor que viveu de 24 de Maio de 1854 a 1 de Julho de 1929, no Japão a partir de 1889, uma altura de mudança no país.

1895 - Traços do Extremo Oriente
1897 - Dai-Nippon
1904 - Cartas do Japão (com várias séries e volumes publicados após esta data)
1905 - O culto do chá
1906 - Paisagens da China e do Japão
1907 - A vida japonesa
1916 - O Bon-Odori em Tokushima
1917 - Ko-Haru
1923 - Ó-Yoné e Ko-Haru
1924 - Relance da história do Japão
1926 - Os serões no Japão
1926 - Relance da alma japonesa

Como podemos ver o oriente é o tema de toda a sua obra. Curiosamente encontramos uma publicação na Imprensa Nacional-Casa da Moeda que não consta nesta lista. Foram recentemente publicados:
FERNÃO MENDES PINTO NO JAPÃO
Ó-YONÉ E KO-HARU

e sobre o escritor
O ESSENCIAL SOBRE WENCESLAU DE MORAES






Wenceslau de Moraes

Wenceslau de Moraes foi um oficial da marinha na segunda metade do século XIX. O desfecho das suas viagens pelo mundo resultou na fixação no Japão, em Tokushima, para passar o resto dos seus dias. Durante esse período, que durou cerca de 25 anos, escreveu diversos livros, grande parte sobre o país onde se encontrava.
Por acaso encontrei-o Ó-Yoné e Ko-Haru perdido na livraria, comprei e descobri uma obra de honestidade extraordinária. Nela encontramos as marcas que o falecimento de duas mulheres, cujo nome deu origem ao título, deixaram em Moraes. Observamos a sua capacidade para se aperceber do que o envolve, como é o Japão visto por um homem já velho, com uma serenidade e sabedoria que impressionam. Enquanto lemos ficamos com a sensação que é um amigo que nos escreve, a leitura sobre as impressões do dia a dia envolvem-nos e levam-nos a conviver com o escritor. Poucas vezes encontrei alguém que através da escrita conseguisse aproximar-se tanto de nós. Uma leitura que recomendo.

Fotos de Wenceslau de Moraes:




Em 2004 decorreram as celebrações dos 150 anos deste escritor. Descobri uma notícia que indica que nesse ano foi construída em Tokushima uma estátua para o homenagear. Em vida os japoneses sempre rejeitaram este estrangeiro, na morte talvez o lembrem mais que os portugueses. Afinal, a estátua encontra-se junto a um museu de Tokushima, o museu Wenceslau de Moraes.

Ko-Haru

Ko-Haru, pequena primavera, Verão de São Martinho em português, nome disponível para o blog. Nos momentos de escolha não vale a pena pensar muito, Ko-Haru aparece no título do livro que leio no momento, verão de são martinho é agora, o conjunto de influências levou a este blog. É um blog pessoal, não tem tema, tem uma pessoa, eu, a escrever sobre os assuntos de interesse no momento.

Pronto, agora já posso configurar melhor o tema do blog.