domingo, 25 de novembro de 2007

Ideologia implícita

Retiro este pequeno excerto de uma entrevista a Mário Soares. É com muito gosto que vejo mais alguém reconhecer que as ideologias não terminaram e que o neoliberamismo é uma ideologia. A situação que talvez seja atípica é a de essa idelogia não ter quase mais nenhuma capaz de competir com ela. Além disso tem a força de descer ao desejo de posse dos homens, a esse vício que nos consome mesmo sem nos dar prazer.

Reconhecer que existe uma ideologia é o primeiro e mais importante passo para criar ideologias alternativas. E Mário Soares, nesta entrevista, dá o seu contributo.


DN - Agravaram-se porquê?

MS - Agravaram-se porque houve uma vaga neoliberal.

DN - Acha que os políticos em Portugal têm sido muito condescendentes com os grandes grupos económicos e com essas desigualdades?

MS - Bem, os grupos económicos são necessários. Mas eu acho que houve uma vaga neoliberal vinda da América. E essa vaga neoliberal é uma ideologia. Quando disseram que acabaram as ideologias... realmente acabou o comunismo por implosão, acabou o nazi-fascismo porque foi derrotado, mas veio o neoliberalismo, que é uma outra ideologia perniciosa para a América, em especial, e para o mundo, também para a Europa. Houve uma vaga que entrou...

DN - Por onde?

MS - Em grande parte via [Tony] Blair.

entrevista

A Confissão de Lúcio


"A Confissão de Lúcio", obra de Mário de Sá Carneiro, é pouco clara no seu objecto - assumindo que há um objecto. Podemos encontrar o desequilíbrio e descontrolo - principalmente de Lúcio. Ou a dificuldade de comunicação e a impossibilidade de transmissão directa da experiência cognitiva. Encontramos ainda alguma caricatura da arte e do meio artístico, não sei se intencional, mas presente na ambiência parisiense. Encontramos tudo isto mantendo-nos sempre perdidos e desorientados.

Esta obra não-linear acaba por não oferecer uma leitura agradável, oferece a mesma sensação de ter uma longa conversa com um louco. No entanto o tema e a abordagem não são perdas de tempo, ao ler o livro várias vezes me ocorreram imagens do filme Mulholland Drive, a linguagem do cinema parece muito mais apta para expressar aquilo que até podia fascinar Mário de Sá Carneiro mas que não chega ao leitor por via da escrita.

Excertos no Instituto Camões

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Idade Avançada

O estúdio Mistwalker tem um curso um jogo de nome Lost Odyssey. Um dos personagens principais, Kaim, tem uma aparência jovem com uma idade de 1000 anos. Há mais alguns personagens na mesma condição, pessoas imortais que circulam pelo mundo. Mas as características que Sakagushi associa a esta idade são as de indiferença, talvez até apatia. Subjacente está a ideia de mundo monótono e de tédio para quem tem de aturar os "jovens" que repetem constantemente os mesmo actos.

É uma boa forma de colocar a imortalidade. Será interessante saber como se relacionam os imortais entre si, se também são camaradas, indiferentes ou se practicam as mesmas acções que caracterizam o mundo que entedia.

sábado, 3 de novembro de 2007

A arte de jogar

Vídeo

Encontrei na Edge deste mês uma citação deste vídeo e pareceu-me bastante bizarra. Consegui encontrar o vídeo e os comentários são preocupantes. Primeiro temos aquela comparação entre formas culturais, jogos comparados a livros e a cinema. Apesar de os jogos terem histórias e imagem, na verdade não são esses os elementos vitais. A arte de fazer um jogo passa, em primeiro lugar, pela forma como estão definidos os controlos - e nesse campo os críticos tradicionais não são muito competentes na apreciação dos jogos uma vez que não têm noção de que fazem parte do jogo e que o jogo não é autónomo do jogador.

A isto segue-se outro assunto preocupante, o exemplo do livro deprimente. Eu não leio livros deprimentes, se isso é arte então não tenho nenhum gosto por essa coisa. Parece que a arte foi tomada de assalto por loucos e o melhor é manter a distância. Será melhor que os jogos se afastem dessa contaminação da arte moderna (que por acaso consegue ser bastante deprimente).

Sobre o jogo ser melhor na primeira vez que o jogamos, não estou muito certo disso. Em muitos jogos actuais, jogos muito limitados pela colagem a formatos como o cinema, isso pode ser verdade. Não é verdade no entanto para jogos mais puros, mais virados para o jogo propriamente dito e menos para outros aspectos paralelos.

Por fim vemos o senhor a comentar como o jogo é realista e dá a entender que essa será uma virtude. Não vejo porquê nem como, mas é uma coisa muito americana - deve ser por isso que os jogos desse lado do Atlântico são por regra mais feios que os do resto do mundo.

Ao ler a Origem da Tragédia consegui compreender melhor a crítica actual e as deficiências de que muita da arte existente sofre. Nos jogos o livro é particularmente pertinente, creio que tendo presentes as ideias do livro seremos muito mais cautelosos ao fazer afirmações como fez o senhor Dirda.