segunda-feira, 19 de março de 2007

Capítulo XVIII, Séc. XXI

Maquiavel deu ao capítulo XVIII de "O Príncipe" o título "Guardemos-nos de ser odiados e desprezados" (de contemptu et odio fugiendo). Nele encontraremos esta passagem bastante actual:

O reino da França é dos mais bem ordenados e governados de que se tem conhecimento no nosso tempo. Nele se encontram inúmeras e boas instituições, das quais dependem a liberdade e a segurança do rei. A primeira é o parlamento e a sua autoridade, pois aquele que estabeleceu a forma de governo deste reino, conhecedor da ambição e da presunção dos mais importantes e achando que precisavam de qualquer espécie de freio para os sofrear, e conhecendo também o ódio, baseado no medo, que a maiora tem pelos grandes, e desejando tranquillizá-la, achouque convinha poupar ao rei o rancor que inspiraria aos grandes senhores, ao aliviar o fardo da arraia miúda, ou esta, ao favorecer os gentis homens. Por isso constituiu um terceiro juiz, que, sem que o rei crie inimigos, castiga os grandes e favorece os pequenos. Esta instituição não poderia ser melhor, nem mais sensata, nem proporcionar maior segurança ao rei e ao reino. Daqui se pode tirar uma boa advertência: os príncipes devem confiar a outros os papéis que concitam rancores e tomar para si os que atraem o reconhecimento. Repito, outra vez ainda, que o príncipe deve prestar atenção aos mais importantes, mas sem se fazer diar pelo povo.

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