Foi transmitido durante a semana um documentário sobre Portugal desenvolvido por António Barreto. O assunto era a mudança de vida e de modo de vida com a passagem da maior parte dos Portugueses de um ambiente rural para um ambiente urbano. Já tinha noção de grande parte do que foi abordado, o que não foi suficiente para impedir o choque com aquelas imagens e situações. Mas que não haja equívocos, os bairros de lata do passado (e presente) são muito menos chocantes do que o desperdício de vidas em filas de carros.
É feito um relato bastante extenso, na primeira pessoa, de uma mulher que mora a 1h30 do local de trabalho. Trata-se de uma mulher na casa dos 30 anos, mãe de 2 filhos, que tem um dia impossível. Começa às 5h da manhã e acaba à 1h da manhã - em princípio aquelas 4h que sobram são para dormir. Tudo me parecia terrível, uma mulher condenada a trabalhos forçados!, até que chega a parte de explicar melhor o trabalho que faz...
Esta mulher é proprietária de um centro de estética, trabalha por conta própria. Abre às 9h, não encerra para almoço e, desde que o marido passou a ter disponibilidade para ir buscar os filhos à escola, fecha só às 8h da noite. Todo este sacrifício e tempo de trabalho é a pensar nos filhos, nas suas palavras "não lhes vou dar 30 se posso dar 100". Não se trata portanto de uma questão de grande necessidade.
Ao fim de contar esta história de trabalhos forçados e lhe perguntam qual é o maior sacrifício que faz por ter uma vida assim; ela responde que é não poder estar com os filhos. Diz que eles sentem a falta dela, principalmente o mais novo, e que quando chega a casa jáé tarde e tem de executar mais algumas tarefas - o que é impeditivo de passar qualquer quantidade de tempo com os fihos.
Parece que nesta coisa de dar aos filhos há 2 tipos de 100 e de 30, sendo a prioridade orientada para a, menos valiosa?, criação de valor. Com o passar do tempo as 100 coisas que os pais puderam dar aos filhos vão-se desgastar, desaparecer, e com esse desaparecimento vai todo o legado que deixaram. Talvez transmitam uma coisa: uma distorcida noção de prioridades.
sábado, 14 de abril de 2007
Se podia 100, porquê só 30?
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