sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Jogos de Vídeo - arte? *

Uma das questões que se pode pôr actualmente é se o jogos de vídeo são arte. Para muitos são não passam de uma actividade para jovens, com pouca substância e com grandes doses de violência. A maior parte das pessoas nunca jogou um jogo de vídeo, é para esses um produto estranho em relação ao qual devem manter distância.
Apesar de esse equívoco geral, quem está dentro do universo dos jogos deve interrogar-se - os jogos de vídeo são arte?

A minha resposta será - sim, são arte. Resultam de uma combinação de imagem, som, jogabilidade, têm histórias e mensagens que é preciso intrepretar. Deste ponto de vista o jogo é arte simplesmente porque resulta de uma combinação de artes.

Alguns jogadores dão uma resposta ligeiramente diferente, preferem dizer que alguns jogos são arte e outros não. Os motivos e critérios são-me estranhos, há nesses casos uma grande subjectividade sobre se um dado jogo é arte ou não. Penso que nestes casos o problema se resume de uma forma mais simples: há arte boa e arte má. A ideia que tentam transmitir quando dizem que "não é arte" é que não presta, é fraco, em resumo, é má arte. A minha óptica é mais simples e, apesar de não isenta de problemas, é um raciocínio bastante básico considerar que os jogos são arte porque resultam de uma combinação de artes.

Aquilo que mostrei até agora resume-se à arte numa prespectiva subjectiva, a minha opinião e a opinião dos outros. Pode existir um critério de demarcação de arte e não arte. Eu não sei explicar o que é arte, apenas sei dizer que um objecto é arte ou não. Talvez pelo cheiro ou outra qualquer propriedade mística, o que em geral sabemos fazer é definir algo como arte de uma forma intuitiva.
Esta questão assemelha-se a uma outra, também muito debatida, que diz respeito a "o que é ciência". Já antes falei em critério de demarcação, vocabulário que não será estranho a quem já conhece o caso da ciência.

Conseguimos nós dar um critério de demarcação para distinguir arte de não-arte?
Mais ou menos...

Tal como alguém sugeriu no caso da ciência, a arte não é uma construção individual. Há todo um meio envolvente, uma comunidade, eles dizem o que é arte e o que não é. Têm Um Critério? Na maior parte dos casos não, é mais uma questão de quem é mais convincente a persuadir o outro da sua opinião.

Esta dinâmica de discussão e debate para a comunidade determinar por si o que é arte ou não é arte pressupõe que existe uma comunidade, que tem uma voz comum representativa dessa arte (neste caso, os jogos de vídeo) e que é suficientemente forte para comunicar com as outras comunidades e indivíduos. A arte é definida como construção social e não com um critério "simples" e objectivo. A comunidade tem de comunicar entre si através de encontros e publicações especializadas (já existentes) e comunica "para fora" através do meios mais ou menos tradicionais de comunicação que existem (é neste campo , que levaria a um maior reconhecimento dos jogos, que ainda há muito por fazer). O ideal é que os jogos se enquadrem naquilo que podemos chamar "cultura geral", os conhecimentos simples e superficiais, conhecidos por todos, de assuntos mais vastos e complexos. Esse é um passo fundamental para que os jogos entrem para a categoria de arte e deixem de ser uma mera proeza de engenharia.

Conclusão
A partir do que disse podemos concluir que o jogos não são arte. Pode existir uma minoria de pessoas, como eu, que já estão a tentar divulgar o jogos de vídeo como produto artístico e capaz de ser uma expressão cultural de uma comunidade. No entanto isso não é suficiente, para que seja arte é necessário que seja aceite pela generalidade como tal. Não se trata de uma questão de mérito e capacidade, é antes uma questão de notoriedade e poder. Os jogos serão arte quando tiverem força suficiente para se afirmar como tal.


* retirado do estigma2005

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