terça-feira, 21 de agosto de 2007

(...) Alguém poderá dizer: "Não te envergonhas, Sócrates, de teres levado uma vida como essa que todos nós conhecemos, e que hoje te conduziu ao risco de pena de morte?". A esse eu replicaria justamente: "Enganas-te, amigo, se julgas que um homem com algum mérito, por fraco que seja, deve ter em conta o risco de viver ou de morrer, em vez de ter unicamente na ideia quando actua, se o que faz é justo ou injusto, se é digno de um homem de bem, ou de um malvado. Na tua opinião, seriam desprezíveis todos os semideuses que morreram em Tróia, incuindo o filho de Tétis, que, para fugir à desonra, de tal modo despresou o perigo que, sua mãe (e era uma deusa!) vendo-o impaciente por matar Heitor lhe diz mais ou menos isto: "Meu filho, se vingares a morte de Patrocolo, derramando o sangue de Heitor, tu morrerás também, porque, morto Heitor, a morte está no teu destino". - Ele, não obstante o aviso, receando muito mais uma vida de covardia, sem ter vingado o amigo, desafiou a morte: "Que eu morra imediatamente - exclamou - depois de ter punido o malfeitor, e não fique exposto ao escárnio, inútil carga de terra junto às curvas naus."

Platão, Apologia de Sócrates

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem dito! Estou a ver que também vou ter de ler esse.