quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O turista e o viajante

O escritor de que tenho falado foi um grande viajante. Como oficial da marinha portuguesa andou por todos os mares, visitou todas as colónias, conheceu outras nações e outros povos. Foi mais longe, casou com uma não portuguesa de um país distante.
Ao visitar um país sujeitou-se às condições locais, por exemplo estalagens caóticas na China. Enquanto viajante manteve-se atento aos locais e às pessoas, que ficou a conhecer e, dentro do possível, compreender. Nele há o caso particular de ter como maior memória os camaradas dos navios em que serviu, a dimensão humana vem sempre em primeiro lugar. No encontro com monumentos há um reconhecimento do simbolismo de cada um, alguns têm um grande impacto emocional nesse viajante pelo simbolismo ou ambiente que carregam (bem visível em "O túmulo de Atsumori", parte do livro Ó-Yoné e Ko-Haru).
A visão do homem é central na viagem, conhecer os outros ou até a nós mesmos, reconhecer a dimensão humana das coisas e locais.

Em princípios do séc. XX não existiam muitos viajantes, muito menos em Portugal. Em princípios do séc. XXI existem muitos turistas.

Um turista corre de ponto obrigatório em ponto obrigatório, com máquina fotográfica e respectivas munições, físicas ou energéticas consoante a sofisticação da arma. Abre-se fogo contra o monumento, às vezes ataca-se de fora para dentro, outras de dentro para fora, dispara-se até não sobrar pedra sobre pedra por bombardear. Fash! Fash! Bang! Bang!! Às vezes começa um perseguição por porte indevido de arma no estabelecimento, é preciso ser cauteloso...
Enquanto dura a batalha não é fácil observar, muito menos sentir. A guerra é uma situação extrema, a percepção fica deturpada, a velocidade é essencial para vencer as batalhas, temos sempre de correr para o seguinte ponto estratégico, temos de conquistar aquele território e levar troféus para casa.
Alguns pensam em desertar. Dizem-se cansados, aborrecidos, sem interesse, uns desavergonhados. Lá vão para o hotel, com as estrelas que os nossos padrões internacionais garantem, descansar. A guerra não é para todos, só os bravos subsistem.

Fica aqui o manifesto a favor do turista pacífico, o viajante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois...naquela altura também não havia máquinas fotográficas que coubessem no bolso!