segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Antes de "As Farpas"

Encontrei durante este verão uma edição datada de de Novembro de 1942 do Tomo I de As Farpas. O que me atraiu no livro não foi o escritor, Ramalho Ortigão, de quem apenas tinha ouvido falar, foi o estudo de Augusto de Castro que preenche a primeira parte desta edição. Pela data podem imaginar que o estudo é encantadoramente parcial, faz de Ramalho Ortigão o nosso maior escritor do século XIX e trata Eça de Queirós como um estrangeirado menor, um escritor a quem seria dado mais valor do que o merecido, um senhor do estilo com pouca substância portuguesa.

A edição completa das Obras de Ramalho Ortigão (...) constitui o mais belo monumento à glória do escritor que foi, sem dúvida alguma, o maior prosador português do século dezanove e vem, simultâneamente, pôr em relevo, na hora própria, a personalidade, exemplar e forte, do precursor admirável de todas as grandes ideias que, no campo do apetrechamento moral, material, estético e turístico, representam a actual ressurreição nacionalista de Portugal.

(...)

A obra de Eça tem as suas fronteiras no tempo e, à parte o estilo, que é o instrumento de arte mais dúctil que jamais foi posto a serviço da palavra portuguesa, a sua profundidade nacional é muito relativa.

(...)

O génio de Eça de Queirós é, no fundo, filho da Enciclipédia e o romancista descendente, em linha recta, de Flaubert, do romantismo e do naturalismo franceses. Há no corte da sua ironia uma nítida influência do humorismo inglês. Eça foi um grande escritor europeu nascido em Portugal - e, se nas suas obras o meio, as personagens, a paisagem, a observação são quase sempre estruturalmente portugueses, o molde do seu espírito, o talhe da sua prosa, a sua educação sentimental e crítica vêm-nos directamente do cosmopolitismo artístico do seu tempo.


Outras passagens procuram minimizar esta imagem de Eça, Augusto de Castro não seria completamente louco para tentar diminuir Eça de forma implacável. Mas eu, recheado destas influências de encantadora parcialidade, não as vou transcrever essas passagens. Estas servem de relato histórico do que se passou na cultura portuguesa do século XX. Não fique a ideia que a parcialidade seja má, honestamente só nos podemos considerar parciais em todos os assuntos, é esta parte que foi tomada que não é a mais frutuosa.

Sobre as Farpas e Ramalho Ortigão escreverei noutra altura.

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