quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Outono

Já é Outono e, num grave lapso, não o mencionei aqui no blog. Deixo algumas folhas de plátano, as folhas que estou habituado a ver e cheirar nesta altura desde que me lembro de existir.

sábado, 22 de setembro de 2007

Notas do Tradutor

Camilo Castelo Branco fez uma tradução de "A Formosa Lusitânia" de Lady Jackson. Deste livro ficam na memória os comentários do tradutor: vigorosos e adequados nas suas considerações. Demonstra um grande conhecimento de todos os assuntos e castiga a mediocridade do rigor inglês nas considerações sobre o país.

Dou alguns exemplos dessas notas, não os melhores, apenas aqueles que me parecem mais próprios para as minhas experiências deste dia.

114 Parece-me ser este o plebeísmo português correspondente ao knocked up. Segundo o Thesaurus of english words and phrases, de Roget, knocked up tem a seguinte sinonímia fatigued, tired, sinking, prostrate, etc. Talvez mais ao sabor plebeu, se pudesse dizer «derreadas»; porém, é quase inverosímil uma inglesa derreada - elas, que se interiçam na hirta inflexibilidade do osso sem articulação, sem costura, inconsútil. «Estafadas» pois é o melhor, acho eu.

156 Esta senhora houve-se generosamente com a princesa do Mondego. Não é esse o costume dos hóspedes ingleses, Richard Twiss, que esteve em Coimbra em 1773, homem de letras, escreveu um enorme livro acerca de Portugal e Espanha, dedicando a Coimbra as cinco seguintes linhas: «Coimbra é uma universidade situada num monte, perto do rio Mondego, sobre o qual corre uma ponte muito comprida e baixa, com muitos arcos grandes e pequenos. residem aqui cinco famílias inglesas, uma das quais pertence a um médico. Esta cidade é celebrada pelos seus curiosos copos e caixas de corno polido.»
E nada mais diz o admirador do polido corno.



domingo, 16 de setembro de 2007

Na lista de "outros espaços" acrescentei a A Geração Perdida, um blog com gente que confirma se as palavras têm as letras todas e que é um pouco menos rabujenta do que eu.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

No Abrupto podemos encontrar um texto de Boaventura Sousa Santos sobre a invasão e destruição parcial do campo de milho (?) transgénico. Um texto impecável, irrepreensível e completamente incompreensível para um mundo de gente que não gosta de pensar. Não se trata de uma legitimação de um movimento, apenas de como se desenrolam certos tipos de acção.

O 25 de Abril de 1974 foi ilegal, o 24 de Agosto de 1820 foi ilegal, o 1 de Dezembro de 1640 foi ilegal. Nem quero imaginar o que diriam estes comentadores do vital 1 de Fevereiro de 1908! É claro que estes acontecimentos não são de forma alguma comparáveis com um simples ataque a um campo de milho. No entanto não se trataram de acontecimentos instantâneos, desenvolveram-se a longo do tempo, foram ganhando dimensão lentamente. Nessas fases de crescimento sofrem-se os riscos e praticam-se as "ilegalidades" - nos encontros, nos pequenos actos de revolta, na conspiração.

Nos dias que correm já poucos crêem que no futuro existirão revoluções. É a arrogância das democracias - apesar das inúmeras falhas ideológicas e de governadas por uma maioria tonta não deixam de se achar inabaláveis. Falte o dinheiro e veremos onde pára a robustez dos nossos valores "universais".

domingo, 9 de setembro de 2007

C.C.B.

Ao homem desamparado não se lhe podem pedir contas do pacto social, porque a sociedade não quis aliança com ele quando o desamparou. Ao homem do trabalho, que subsiste do seu salário, se lhe tiram a enxada da mão, concedem-lhe o direito tácito de se revoltar contra alguém que o alimente. (...)

Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam à craveira dos ladrões dos outros países.

Citações de Camilo Castelo Branco em Vida do José do Telhado.

Nestas passagens encontro dois elementos de relevo. Um é a da justificação da pobreza extrema para o saque. É de realçar no entanto que tal argumento só se aproveita quando a palavra pobreza vem acompanhada da palavra extrema, coisa cada vez mais rara no nosso país e continente.

Na segunda passagem algo mais frequente, a tentativa de enfiar na máquina e a 90º o nosso povo de algodão. O comentário, directamente do século XIX, mostra que não só temos o hábito de encolher em pouca água a ferver, como que o tamanho já era o "XS". Serve de exemplo para aqueles que acreditam que umas poucas décadas do século XX moldaram as mentes dos portugueses. Não, esse espírito já vem de outros tempos.

sábado, 8 de setembro de 2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Num artigo do DN intitulado "o que falta para sair da crise" César das Neves aponta um dos graves problemas da política e da mentalidade tecnocrática. Pode-se resumir a texto na ideia de que se não avançamos é porque não sabemos para onde ir, nem sabemos bem onde estamos. Em termos de economia vai ao fundamental: é uma questão com uma forte ligação à componente cultural.

Actualmente é-me mais fácil compreender pessoas assim, com ideais ou fé, do que os comentários mais gerais e comuns. É quase como se todos os que acreditam em algo tivessem facilidade em ver o inimigo comum, o nada - esse adversário complicado.




Um pouco antes passei por este artigo, que passo a citar (sem pretender nenhuma carga negativa para o primeiro artigo):

"O dinheiro tornou-se mais e mais um Deus ao qual todos tinham que servir e diante do qual todos tinham que se prosternar. O Deus Celestial tornou-se mais e mais uma velharia ultrapassada e foi posto de lado para dar espaço ao culto de mammon. E assim começou um período de total degeneração que se fez especialmente pernicioso porque ocorria num tempo em que a Nação necessitava de ideais grandiosos, pois a hora crítica aproximava-se. A Alemanha deveria ter-se preparado para proteger com a espada seus esforços de ganhar o pão de cada dia pacificamente. Infelizmente, a predominância do dinheiro recebeu apoio e sanção daqueles que deveriam ter-se oposto a ela. (...). Na prática, contudo, todas as virtudes ideais passaram para o segundo plano em relação ao dinheiro, pois estava claro que, uma vez tomado esse caminho, a nobreza da espada brevemente seria suplantada pela finança (...). Um sério estado de ruptura económica era urdido pela lenta eliminação do controle pessoal dos investimentos e a gradual transferência de toda a estrutura económica para as mãos das sociedades por acções (...). Desse modo, o trabalho foi rebaixado a objecto de especulação ao alvedrio de exploradores sem escrúpulos. A despersonalização da propriedade aumentou em grande escala. Os círculos financeiros passaram a triunfar e progredir lenta mas seguramente na assunção do controle de toda a vida nacional. A melhor prova de quão longe essa "comercialização" da nação alemã fora longe pode ser vista claramente após a guerra, quando um dos principais industriais alemães afirmou que somente o comércio poderia reerguer a Alemanha."


Adolf Hitler, Mein Kampf


O sucesso da recuperação alemã, em termos económicos e políticos, revela a importância que um ideal combinado com uma cultura capaz de "fazer" traz tudo o que é necessário para o desenvolvimento sem estar constantemente a falar, de forma vazia, em competitividade. Claro que nem todos os ideais são bons, apenas a utilidade dos mesmos é garantida.