sábado, 28 de abril de 2007

O exagero da virtude

Esta notícia do DN é interessantíssima. É uma pena que o ex-primeiro ministro de Espanha não falar assim quando não era "ex-primeiro-ministro". Mesmo assim vale a pena ver o que ele tem a dizer e passo a citar o artigo:

"Falando para mais de uma centena de empresários, políticos e opinion makers, o antigo líder do Partido Popular considerou o multiculturalismo a "negação da sociedade democrática". Ao contrário do que alguns políticos defendem, Aznar não o vê como exemplo de tolerância. Pelo contrário. "Não é o mesmo uma Europa com 10% de imigrantes do que com 40%", assim como "não é o mesmo com maioria cristã ou muçulmana". Para o ex-governante, "os líderes políticos devem reflectir sobre as fronteiras da União Europeia, recuperar os nossos valores e não pensar só no politicamente correcto"."

O multi-culturalismo como anti-democrático deveria ser algo bastante óbvio para qualquer pessoa que tenha noção que as culturas são diferentes. Com culturas diferentes o princípio do voto fica desvirtuado, deixa de ser uma questão de democracia para uma ditadura da maioria. Depois há o problema de articular as culturas que vai resultar na anulação, pelo menos na vida pública e política, da generalidade das culturas. A democracia não é tolerante, trata-se apenas de um sistema que foi criado a pensar num tipo de mundo, um mundo em que existe uma cultura num espaço, uma cultura que não tem de prestar vassalagem a outras culturas e decide por si.

Sobre uma Europa com 10% de imigrantes ou com 40% ser diferente, aí está um comentário extremamente evidente. Impressiona neste comentário é a falta de percepção que geralmente os cidadãos têm do fenómeno. Claro que não ajuda o facto de nesta sociedade "tolerante" sermos imediatamente acusado de xenofobia por dizer uma frase como aquela.

Há muitos anos, no lado errado do Atlântico, começou o politicamente correcto. Felizmente que alguns líderes, e é uma pena que são apenas de direita, estão a começar a desgastar esse conceito infame, de tal modo que até começo a desejar que ganhem eleições. Aznar não disse nenhuma "inverdade".

P.S.: só numa altura de pleno politicamente correcto uma palavra como "inverdade", que nem chega a merecer o estatuto de palavra já que não passa de um grunhido, poderia ser usada com tanta frequência.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

E Depois do Adeus (Paulo de Carvalho)

A música que deu início à revolução parece escrita para as gerações seguintes. É pena é que a parte que mais "nos" cabe é a primeira estrofe...

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

25 de Abril

A intensidade da revolução é notória nas fotos.

Provavelmente a máquina fotográfica foi inventada para poder captar as imagens da nossa revolução. :)

Cerco aos TLP, 1974

Quando os militares são a paz e o pacifismo.

sábado, 21 de abril de 2007

sábado, 14 de abril de 2007

Se podia 100, porquê só 30?

Foi transmitido durante a semana um documentário sobre Portugal desenvolvido por António Barreto. O assunto era a mudança de vida e de modo de vida com a passagem da maior parte dos Portugueses de um ambiente rural para um ambiente urbano. Já tinha noção de grande parte do que foi abordado, o que não foi suficiente para impedir o choque com aquelas imagens e situações. Mas que não haja equívocos, os bairros de lata do passado (e presente) são muito menos chocantes do que o desperdício de vidas em filas de carros.

É feito um relato bastante extenso, na primeira pessoa, de uma mulher que mora a 1h30 do local de trabalho. Trata-se de uma mulher na casa dos 30 anos, mãe de 2 filhos, que tem um dia impossível. Começa às 5h da manhã e acaba à 1h da manhã - em princípio aquelas 4h que sobram são para dormir. Tudo me parecia terrível, uma mulher condenada a trabalhos forçados!, até que chega a parte de explicar melhor o trabalho que faz...
Esta mulher é proprietária de um centro de estética, trabalha por conta própria. Abre às 9h, não encerra para almoço e, desde que o marido passou a ter disponibilidade para ir buscar os filhos à escola, fecha só às 8h da noite. Todo este sacrifício e tempo de trabalho é a pensar nos filhos, nas suas palavras "não lhes vou dar 30 se posso dar 100". Não se trata portanto de uma questão de grande necessidade.
Ao fim de contar esta história de trabalhos forçados e lhe perguntam qual é o maior sacrifício que faz por ter uma vida assim; ela responde que é não poder estar com os filhos. Diz que eles sentem a falta dela, principalmente o mais novo, e que quando chega a casa jáé tarde e tem de executar mais algumas tarefas - o que é impeditivo de passar qualquer quantidade de tempo com os fihos.

Parece que nesta coisa de dar aos filhos há 2 tipos de 100 e de 30, sendo a prioridade orientada para a, menos valiosa?, criação de valor. Com o passar do tempo as 100 coisas que os pais puderam dar aos filhos vão-se desgastar, desaparecer, e com esse desaparecimento vai todo o legado que deixaram. Talvez transmitam uma coisa: uma distorcida noção de prioridades.

Os problemas de sempre no trânsito.

sábado, 7 de abril de 2007

O bom traidor

Chegou a Páscoa, que melhor altura para dar uma vista de olhos ao Evangelho de Judas. É um texto gnóstico que, como muitos outros, não foi escolhido na compilação da bíblia. Desconhece-se o critério de selecção, já que aparentemente são todos igualmente válidos. Foi uma pena pois este evangelho é dos poucos que faz algum sentido e vai um bastante mais além em termos de conteúdo.

A tradução para inglês do que restou do documento, que não pode ter sido escrito por Judas, encontra-se aqui.