segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Natal, uma falta de bom senso

Imagine uma mulher de 19 ou 20 anos, oriunda de uma família pobre e que se vê a braços com uma gravidez indesejada. Essa jovem é casada, mas o marido não só é pobre, um mísero carpinteiro, como também não é pai do filho que a mulher carrega, facto que lhe provoca algum transtorno. Vamos chamar-lhes Maria e José, nomes fictícios.

Para uma situação destas que dita o nosso refinamento de civilização superior? Ora vejamos:
- família pobre, não garante o sustendo da criança nem lhe garante um futuro promissor;
- gravidez indesejada numa rapariga praticamente adolescente e casada com um homem que não é pai da criança, elemento que não garante condições harmoniosas para o crescimento da criança.

É bastante óbvio que o filho destes dois, mais de um que de outro, não tem futuro e será um caso perdido. O mais provável é tornar-se um delinquente, um criminoso, acabará os seus dias metido em problemas com a lei, será julgado e condenado.

Neste caso uma insistência por parte de Maria e José, nomes fictícios, em levar a gravidez até ao fim seria uma grande inconsiência, reveladora de um sentimento egoísta em relação à criança que vem ao mundo apenas para sofrer. É um daqueles casos evidentes em que o aborto é a melhor solução.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Andar em círculos

Nas considerações sobre os EUA do Planisfério Pessoal surge o assunto das várias mudanças de casa, cidade, estado, que um americano faz ao longo da sua vida. Simultaneamente o cenário americano é caracterizado pela igualdade, o espaço parece homogénio, muda-se de cidade e não se nota a diferença. Cidades iguais, com as mesmas lojas, os mesmo restaurantes, os mesmo cafés, até as mesmas casas. Segundo o texto 75% das vivendas americanas segue o mesmo modelo, um americano pode mudar de casa e passar para outra exactamente igual - só tem de se adaptar ao novo número da porta.
Num país onde se fala a mesma língua e onde tudo é idêntico as viagens e mudanças de casa são uma caricatura, Mudamos de sítio e sem que grande coisa se altere. Como a descrição da américa também não é muito favorável no que toca às relações humanas, a viagem torna-se ainda mais fácil, até os amigos parecem padronizados.

É difícil considerar o país como a terra da igualdade, é antes a terra da não-diferença. É a irona da terra do capitalismo ter um nível de padronização só comparável ao dos Estados comunistas.

You can paint it any color, so long as it's black ainda é o melhor lema sobre a liberdade de escolha no capitalismo mais aguerrido.


Sobre o Planisfério Pessoal

Ao fim de alguma espera lá chegou o meu livro, o Planisfério Pessoal. É de leitura rápida, em pouco tempo li um terço do livro, e na maior parte do tempo relata impressões e considerações sobre as pessoas que vão encontrando o jornalista ao longo o caminho. Ainda não passei do continente americano e tudo o que li só reforçou as minhas intenções de manter uma distância segura em relação a esses territórios, um oceano de distância será suficiente.

Nas minhas leituras recentes entretive-me com Wenceslau de Moraes e, quando me dá para meter as mãos nas Farpas, Ramalho Ortigão. Gonçalo Cadilhe ainda não é adversário à altura dessas velhas raposas - a idade cansa a vista e melhora a visão.
Além destas inevitáveis comparações entre quem tem alguma semelhança no assunto sobre o qual escreve, adianto que tal como n'As Farpas o Planisfério Pessoal não transmite a sensação de livro, não está articulado para isso e a inclusão de algumas caixas com uns "à partes" que não podiam desaparecer não ajuda - faz transparecer que se trata de uma compilação, o que de facto é.
Com alguns defeitos o livro parece ser bem sucedido na sua intenção de contar as histórias da história de uma volta ao mundo sem usar o transporte aério. A sua actualidade e apresentação daquilo que não costumamos saber sobre vários países tornam o livro útil e interessante. Muitas vezes o autor tenta transmitir os seus sentimentos enquanto viajante, não é bem sucedido e esse fracasso dá um ar de vulgaridade. Felizmente algumas entrevistas ao escritor facilitaram a exposição desses sentimentos que se revelam bastante interessantes e poderiam enriquecer o texto se tivessem sido representados com outras combinações de letras.

Um bom livro de viagem, original e pessoal. Dentro do género o escritor parece promissor.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Hoje o blog Abrupto apresenta uma foto de Viseu. Reconheci imediatamente o local, por acaso fica na rua de uma das entradas da Livraria da Praça e o fotógrafo deve estar quase à porta da livraria.

Planeio apresentar algumas fotografias da cidade, é uma questão de conseguir uma máquina emprestada.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

A cal e os homens

Entre considerações sobre o desenvolvimento económico e social do país no tomo I d'As Farpas, com o cenário pessimista que sempre fazem os desta poderosa escola a que Ramalho Ortigão diz pertencer (a dos bota-abaixo), encontramos um comentário curioso sobre a cal e a limpeza dos homens.

Por nenhum dinheiro no mundo um alentejano, um estremenho ou um algarvio entraria nu em uma latrina como fazem os minhotos para o negócio do estrume. Basta comparar as habitações alentejanas, esmeradamente asseadas, com os chiqueiros das famílias pobres do Minho.
- É porque no Minho não há cal.
- Mandem-na vir!
- É o que eles fazem; mas como a cal não está no solo o asseio não está nos costumes. Olhe Afife, como é uma povoação asseada! Porquê? Porque os de Afife são todos estucadores: é a especialidade da profissão que os familiriariza com a cal. Onde a casa é negra o homem é sujo.
- O senhor cuida então que o que falta no Minho é cal? Pois eu entendo que o que lá falta é gente. A população do minho é uma população de refugo. A emigração é um agente selectivo exercendo-se no sentido de operar a decadência. O minhoto mais forte, mais robusto e mais inteligente vai para o Brasil...
- Enriquecer!
- Sim; enriquecer o Brasil com a sua inteligência e com o seu trabalho, e empobrecer a sua terra pela ausência da sua capacidade e da sua força no conflito da civilização local.
(...)

Aqui encontramos duas questões pertinentes, uma da relação da cal com o asseio, que é muito sugestiva para os níveis da limpeza em grande parte do mundo - apesar de remotamente válida. A outra diz respeito ao efeito da emigração e ao engano que é acreditar que o dinheiro de algibeira proveniente dos emigrantes traz desenvolvimento às regiões. As minhas recentes impressões sobre o Minho são a da continuidade da pobreza relativa, noutro patamar é claro. Quando as regiões se esvaem em gente só podem contar com a falta de vigor para toda a acção, não há arremesso de dinheiro que traga desenvolvimento. Acrescente-se que este mal não é característico do Minho, é um mal das nossas províncias nos diferentes pontos do espaço e do tempo.

Para quê ler os jornais se As Fartas nos fornecem informação ainda mais actual?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Puro Sangue Lusitano

As raças cavalares do norte da Europa foram criadas para o desporto e a competição. São artificiais. O ibérico é um cavalo é um cavalo com história única: é o mais completo, o mais polivalente, o mais belo, o mais corajoso, o mais nobre.
(Laetitia Boulin-Néel em entrevista na revista NS de 28/9/2006)

Esta é uma raça antiga, com idade estimada de 5000 anos, com a antiguidade a ser uma vantagem pelo constante aperfeiçoamento do animal. Figurando entre os mais antigos cavalos de sela, destacou-se ao longo do tempo, os cavalos ibéricos foram temidos por gregos e adoptados por romanos, fazendo da península um local de produção de cavalos para o império. Posteriores invasões mouras acabaram por ter um impacto indeterminado nas raças ibéricas já que é difícil determinar se foram trazidos cavalos do norte de África ou, pelo contrário, foram levados cavalos para África inflenciando as raças berberes.

O resultado é um animal polivalente com vastas capacidades físicas e emocionais. Isto pode ser constatado nas touradas, a actividade que garantiu a sobrevivência desta espécie, onde o desempenho do puro sangue lusitano é excepcional tanto a nível da coragem e frieza com que enfrenta o touro como na elegância, resistência e aceleração que são fundamentais para um bom toureio.

Um entendimento fácil com o cavaleiro e o seu espírito dócil fazem com que este cavalo seja adequado para actividades que vão para além do toureio, servindo como cavalo de trabalho, passeio ou para prática de outros desportos. Esta polivalência tem o seu simétrico na relativa raridade da raça, como se pode ver nas estatísticas indicadas abaixo. Após o 25 de Abril ocorreram problemas na manutenção das quintas onde o cavalo era produzido devido às nacionalizações. Uma lista de studs tem tido um contributo importante na manutenção da espécie, sempre com a preocupação de manter as suas qualidades e evitar os problemas de consanguinidade. Existem actualmente alguns puro sangue lusitano espalhados pelo mundo e a espécie parece ter encontrado um rumo novamente e desse modo garante o seu aperfeiçoamento e subsistência.

A sofisticação da escola de portuguesa condiz com a do puro sangue lusitano, com belos resutados a decorrer do entendimento e competência de cavalo e cavaleiro.

História do cavalo lusitano

Dados sobre o cavalo lusitano (e puro sangue árabe, outra espécie interessante)
Estatísticas
Associação de Criadores de Puro Sangue Lusitano